terça-feira, 28 de dezembro de 2010

REFLEXÕES OCIOSAS

- A dúvida é o caminho mais curto para a sabedoria. Se você tem dúvidas, não duvide: você está no caminho certo.

- A obscuridade é uma virtude do pensamento.

- A sabedoria dispensa a crença. Saber é melhor que acreditar.

- O inimigo mortal do ateísmo não é a religião: o inimigo mortal do ateísmo é a alienação.

- Na verdade, é o mestre que se prepara para receber o discípulo, é ele que o encontra, e não o contrário. Foi Jesus, repare, que encontrou e escolheu seus discípulos.

POESIAS OCIOSAS

Seinão,
às vezes sinto
que passei pela vida
de raspão.


Fomos feridos,
Um para o outro.

FRASE DO ANO

- Um homem sem barriga é um homem sem história. Kátia Lopes.

SABEDORIAS PROFANAS

- Quanto mais o "bem" for analisado objetivamente, quanto mais for ele tratado como algo a ser atingido por técnicas virtuosas especiais, tanto menos real se torna. Thomas Merton.

- E o viajante era um cara que ficava viajando/de um lugar/para outro lugar sem parar, até que um dia/começou a viajar/de um lugar para dentro daquele mesmo lugar. “Negro blues”.
Jorge Mautner.

- Penso, logo “eu” não existo.
Alexandre Kojève.

POESIAS QUE GOSTARIA DE TER ESCRITO

DELÍRIO PURO
quanto mais louco
lúcido estou

no fundo do poço
que me banho
tem uma claridade
que me namora
toda vez que
eu vou ao fundo

me confundo quando bóio
me conformo quando nado
me convenço quando afundo

no fim do fundo
eu te amo.

Chacal. Poeta marginal que desde a década de '70 deu sentido e conteúdo ao escasso e diminuto movimento poético-contracultural entre nós.

TA DIFÍIIICIL
Na biblioteca aqui de casa
No meio da madrugada

Em busca de transcendência
Quase fui pego pela loucura.
Pedro Teixeira. Pedro é um garoto perdido em si mesmo. Ainda não sabe se vai por aqui ou por ali. Mas vai saber.

UM POUCO DE NIETZSCHE NA VEIA NÃO FAZ MAL A NINGUÉM

- Quanto mais de perto se quis ver o problema, perguntando como é que o definido pôde alguma vez sair do ‘indefinido’, o temporal do eterno, a iniqüidade da justiça, mais densa se tornou a noite. In: A filosofia na idade trágica dos gregos.

- A fé salva, portanto, mente. In: O anti-cristo.

- Convicções são inimigos da verdade mais perigosos que as mentiras. In: Humano, demasiado humano.

- A mentira mais freqüente é a que cada qual diz a si próprio. In: Humano, demasiado humano.

- Pelas palavras e pelos conceitos, nunca atravessaremos o muro das relações, nem penetraremos em qualquer origem fabulosa das coisas; mesmo nas formas puras da sensibilidade, e do entendimento, no espaço, no tempo e na causalidade, não encontramos nada que se pareça com uma ‘veritas aeterna’”.
In: A filosofia na idade trágica dos deuses.

- Quanta verdade suporta, de quanta verdade é capaz um espírito?
In: Ecce Homo.

- Se houvesse deuses, como toleraria eu não ser um deus? Logo, não há deuses.
In: Assim falou Zaratustra.

- Só se permanece filósofo - calando-se. In: Humano, demasiado humano.

- Outros povos têm santos, os gregos têm sábios.
In: A filosofia na idade clássica dos gregos.

- Este, agora - é o meu caminho; onde está o vosso? - Assim respondia eu aos que me perguntavam pelo ‘caminho’. Porque ‘o caminho’ não existe!
In: Assim falou Zaratustra.

- Quem chegou, ainda que apenas em certa medida, à liberdade da razão, não pode se sentir sobre a terra senão como andarilho - embora não como viajante em direção a um alvo último: pois este não há. Mas bem que ele quer ver e ter os olhos abertos para tudo o que propriamente se passa no mundo; por isso não pode prender seu coração com demasiada firmeza a nada de singular; tem de haver nele próprio algo de errante, que encontra sua alegria na mudança e na transitoriedade (...) São andarilhos e filósofos. Nascidos dos segredos da manhã meditam sobre como pode o dia, entre a décima e a décima segunda badalada, ter um rosto tão puro, translúcido, transfiguradamente sereno.
In: Humano, demasiado humano.

- Orgulho-me de seguir as doutrinas do filósofo Dioniso e preferiria mil vezes ser considerado como um sátiro do que como um santo.
In: Ecce homo.

- É chamado de espírito livre aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria com base em sua procedência, seu meio, sua posição e função, ou com base nas opiniões que predominam em seu tempo. Ele é a exceção, os espíritos cativos são a regra.
In: Humano, demasiado humano.

- Má e anti-humanas chamo todas essas doutrinas do uno e perfeito e imóvel e sacio e imperecível.
In: Assim falou Zaratustra.

- [Sobre a religião cristã] Logo, por meio de súplicas e orações, por meio da submissão, do compromisso de tributos e presentes regulares, de exaltações lisonjeiras, é possível também exercer uma coerção sobre os poderes da natureza, na medida em que os tornamos afeiçoados a nós: amor vincula e é ligado. Em seguida, podemos fechar acordos em que nos obrigamos mutuamente a determinada conduta, estabelecemos penhores e trocamos juramentos.
In: Humano, demasiado humano.

- Eis o que eu chamo o imaculado conhecimento de todas as coisas: não querer das coisas mais do que poder estar diante delas.
In: Assim falou Zaratustra.

- (...) O querer viver-se à parte, o poder-se ser diferente, o estar-se só e viver-se por si próprio fazem parte do conceito ‘grandeza’. Então o filósofo denunciará algo de seu próprio ideal ao estipular: será o maior aquele que conseguir ser o mais solitário, o mais escondido, o mais afastado, o homem para além do bem e do mal, o senhor das suas virtudes, o transbordante de vontade. A isso claramente se chamará grandeza. Poder-se ser a um tempo múltiplo e inteiro, tão amplo como pleno.
In: Para além do bem e do mal.

- Pelas palavras e pelos conceitos, nunca atravessaremos o muro das relações, nem penetraremos em qualquer origem fabulosa das coisas.
(?)

- A vontade de poder - a inesgotável e geradora vontade de viver. In: Assim falou Zaratustra.

- Qual é o grande dragão, ao qual o espírito não quer mais chamar senhor nem Deus? ‘Tu deves’ chama-se o grande dragão. Mas o espírito do leão diz: ‘Eu quero’. (...) Todo o valor já foi criado, e todo o valor sou eu. Na verdade, não deve mais haver nenhum ‘Eu quero’! assim fala o dragão.(...) Criar para si a liberdade de novas criações, isso a pujança do leão pode fazer. Conseguir essa liberdade e opor um sagrado ‘não’ também ao dever; para isso, meus irmãos, precisa-se do leão”.
In: Assim falou Zaratustra.

- [“Espírito livre” são aqueles que] (...) cheios de maldade contra os engodos da dependência que estão escondidos em honras, ou dinheiro, ou funções, ou entusiasmos dos sentidos; até mesmo gratos para com a desgraça e a doença rica de mudanças, porque sempre nos desvencilharam de alguma regra (...) gratos para com Deus, diabo, ovelha e verme em nós, curiosos até o vício, inquisidores até a crueldade, com dedos inescrupulosos para o intangível, com dentes e estômago para o mais indigesto, prontos para todo ofício que exija acuidade de sentido e sentidos aguçados, prontos para todo risco, graças a um excedente de ‘vontade livre’”.
In: Para além do bem e do mal.

- [Espíritos livres] Sem sim, sem não, voluntariamente perto, voluntariamente longe, e de preferência esquivando-se, desviando-se, esvoaçando para longe, outra vez além, outra vez voando para o alto (...) ao mesmo tempo uma doença que pode destruir o homem, essa primeira irrupção de força e vontade de autodeterminação, de valoração própria, essa vontade de vontade livre.
In: Humano, demasiado humano.

- Retribui-se mal um mestre quando se permanece sempre e somente discípulo.
In: Assim falou Zaratustra.

- Só se permanece filósofo mantendo o silêncio.
In: Humano, demasiado humano.

- Você deve tornar-se senhor de si mesmo, senhor também de suas próprias virtudes (...) você deve ter domínio sobre o seu pró e o seu contra”.
In: Humano, demasiado humano.
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domingo, 19 de dezembro de 2010

O SAGRADO

Sim, o sagrado taqui:
Tá no bafo do irracional,
e no dente que dilacera o outro.
Sim, o sagrado taqui.
Tá na moita rasteira que destapa o sapo,
e na sola insensata que trava o grilo.
Sim, o sagrado taqui.
Tá no protesto do nascido, na frieza do ido,
e no susto do interrompido.
Sim, o sagrado taqui.
Tá no sonho estremecido do cão,
e no bigode do gato.
O sagrado taqui, sim:
Tá no afetivo.

SABEDORIA DA ÍNDIA

Recebi um email - talvez você tenha recebido também -, desses que circulam pela rede sobre “as quatro leis da vida” segundo a sabedoria oriental. Bem, apesar do tom de autoajuda da mensagem, achei interessante porque para quem estuda a filosofia oriental, elas têm um profundo e rico fundo de verdade psicológica, existencial e espiritual. De modo resumido, aí vão elas, sem maiores comentários:
- A pessoa que chega, é a pessoa certa.
- O que aconteceu é a única coisa que poderia ter acontecido.
- Qualquer momento que chega, é o momento certo.
- Quando algo termina, termina.
Simplesmente assim.

O QUE É FILOSOFIA

- “A filosofia é um exercício de si no pensamento”. Michel Foucault.

- “Filosofar é tornar viável a própria existência, ali onde nada está dado e tudo deve ser construído”.
Michel Onfray.

- A filosofia é uma disciplina cuja única finalidade é tornar feliz aquele que a pratica.
Epicuro. (Para ele, a filosofia é um dos instrumentos através dos quais a “conduta humana” deve se adequar com a finalidade última de alcançar a “saúde do espírito”: Diz ele: “Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito”. In: Carta sobre a felicidade (a Meneceu).

PARADOXOS DE LINGUAGEM (OU QUANDO O NÃO-SENTIDO É O SENTIDO E VICE-VERSA).

“Depois de algum tempo, a lagarta tirou o narguilé, bocejou uma ou duas vezes e espreguiçou-se. Em seguida, desceu do cogumelo e retirou-se rastejando na grama, observando simplesmente, enquanto se afastava:
- 'Um lado a fará crescer, e o outro lado a fará diminuir'.
- 'Um lado de que, outro lado de que?', pensou Alice.
- ‘Do cogumelo', disse a lagarta, como se Alice tivesse perguntado em voz alta.
Alice ficou olhando o cogumelo pensativamente, tentando saber quais eram os dois lados, pois como ele era perfeitamente redondo, isso era uma questão difícil”.
Lewis Carroll, “Conselhos de uma lagarta”. In: Aventuras de Alice no País das maravilhas.

CONTRA O CRISTIANISMO

- “O cristianismo é precisamente a religião por excelência, porque ele expõe e manifesta em sua plenitude a natureza, a própria essência de todo o sistema religioso, que é empobrecimento, a escravização e o aniquilamento da humanidade em proveito da divindade”. In: Mikhail. Bakunin, Deus e o Estado.

- O que o mundo precisa não é de dogma, mas de uma atitude de investigação científica, aliada à crença de que a tortura de milhões de indivíduos não é coisa desejável, quer seja infligida por Stalin ou por uma Deidade imaginada à semelhança daquele que acredita”. In:
Bertand Russel, Porque não sou cristão.

- "Os gregos não viam os deuses homéricos acima de si, como senhores, e não se viam abaixo deles, como servos, ao modo dos judeus. Viam como que apenas a imagem em espelho dos exemplares de sua própria casta que melhor vingaram, portanto um ideal, não um contrário de sua própria essência (...) O cristianismo, por sua vez, esmagou e alguebrou completamente o homem, e o mergulhou como que em um profundo lamaçal; então, no sentimento da total abjeção, fazia brilhar de repente o esplendor de uma piedade divina, de tal modo que o surpreendido, aturdido pela graça, lançava um grito de embevecimento e por um instante acreditava carregar o céu inteiro em si. Sobre esse doentio excesso de sentimento, sobre a profunda corrupção de cabeça e coração necessária para isso, atuam todas as invenções psicológicas do cristianismo: ele quer aniquilar, alquebrar, aturdir, inebriar, ele só não quer uma coisa: a medida, e por isso é, no sentido mais profundo, bárbaro, asiático, sem nobreza, não grego. In:
Friedrich Nietzsche, Humano, demasiado humano

SABEDORIAS PROFANAS

- Tudo o que é corporal é uma mesma essência, plantas, árvores, animais, porém cada um difere porque no começo o verbo fiat imprimiu-lhe uma qualidade. Paracelso.

- A beleza de todo o universo criado está constituída de uma maravilhosa harmonia do semelhante e do dessemelhante, na qual os diversos gêneros e espécies e as diferentes ordens de substâncias e acidentes são compostos de uma inefável unidade.(...) Para tudo que se move naturalmente, o princípio e o fim são uma só coisa.
J. E. Eriúgena.

- Deus não faz diferença: para ele tudo é um/Ele faz o mesmo para a mosca e para ti.
Angelo Silesius.

- Voa, pois, no dorso do diabo porque a fuga dos anjos te abrirá caminhos e, assim verás mundos e ouvirás vozes que te eram interditos.
Willian Blake

SOBRE O HINDUÍSMO

- A filosofia indiana afirma com insistência que as possíveis experiências que a mente pode ter da realidade ultrapassam, em muito, a esfera do pensamento lógico. Para expressar e comunicar o conhecimento adquirido em momentos de intuição que transcendem o plano gramatical devem ser usadas metáforas, símiles e alegorias que não são meros adornos e acessórios dispensáveis, mas os próprios veículos de significação, impossível de ser alcançado através de fórmulas lógicas do pensamento verbal comum". Heinrich Zimmer, Filosofias da Índia.

- A religião hindu é um conglomerado de crenças e ritos; ainda que careça de missionários, são imensos seus poderes de assimilação. Não conhece a conversão no sentido cristão e muçulmano, mas pratica com êxito a absorção. Como uma imensa jibóia metafísica, a religião hindu digere lenta e implacavelmente culturas, deuses, línguas e crenças estranhas.
Octavio Paz, Vislumbres da Índia.

- O pensamento do Oriente é, portanto, original. Só se libera para nós, se esquecermos as formas terminadas de nossa própria cultura. Mas temos que compreendê-lo em nosso passado individual e coletivo: reside na região indecisa onde ainda não há religião e nem ainda filosofia (...) As filosofias da Índia e da China procuraram, mas do que dominar a existência, ser o eco ou o ressonante de nossa relação com o ser. A filosofia ocidental pode aprender com elas a reencontrar o contato com o ser, a opção inicial de onde nasceu, a medir as possibilidades que, ao nos tornarmos ‘ocidentais’, fechamos para nós e, talvez, a reabri-las.
Merleau Ponty, O oriente e a filosofia”. In:, Os pensadores.

- O hindu não consegue esquecer nem o corpo nem o espírito. O europeu, pelo contrário, esquece sempre um ou outro. Foi graças a essa capacidade que ele conquistou antecipadamente o mundo, isso não ocorrendo com o hindu. Este não somente conhece a sua natureza, como também sabe até onde ele próprio é essa natureza. O europeu, pelo contrário, tem uma ciência da natureza e sabe espantosamente muito pouco a respeito da
natureza que está nele. Carl Gustav Jung, Psicologia e religião oriental.
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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

REFLEXÕES OCIOSAS

- Deus só pode ser concebido nos termos e nos limites da consciência humana. Nesse caso, negá-lo ou afirmá-lo diz respeito apenas aos termos e limites dessa consciência. A afirmação ou a negação de Deus tem mais a ver com os limites da consciência humana, e menos com a existência ou inexistência do próprio Deus.

- A crença leva à passividade. A passividade leva a resignação. Resignação é desistência de ser. Perplexidade com serenidade. A serenidade reforça o ser.

- A diferença entre o iluminado e o não-iluminado, é que este pensa que é diferente daquele.

- O oriental não tem dificuldade em afirmar que todos temos a “natureza de Buda”, isto é, que somos todos, inerente e indiferentemente, Budas. Já para o ocidental, trata-se de heresia e blasfêmia a afirmação de que temos a “natureza de Cristo” ou que somos o próprio Cristo.

- Nome laico da alma: EU.

PÉROLAS DE SABEDORIA CHINESA

- Certa vez, Yenô, o sexto patriarca, viu dois monges olhando a bandeira de um pagode flamejando ao vento. Um deles dizia: “É o vento que se move”, e o outro dizia: “Quem se move é a bandeira”. Mas Yenô lhes explicou que o movimento verdadeiro não era do vento nem da bandeira, mas de algo no interior de suas mentes.

- Certa feita, o monge Tao-Hsin encontrou o sábio Fa-Yung, que vivia num solitário templo do monte Niu-T’ou, e era tão puro que os pássaros costumavam lhe trazer flores. Enquanto os dois homens falavam, um animal selvagem rugiu ali perto e Tao-Hsin deu um salto. Fa-Yung comentou: ‘vejo que ainda está contigo!’, disse, referindo-se, a “paixão” instintiva do susto. Pouco depois, aproveitando o momento em que não era observado, Tao-Hsin escreveu o caracter chinês que significa Buda na rocha em que Fa-Yung costumava sentar. Quando Fa-Yung voltou ao seu lugar, viu o nome sagrado e hesitou em sentar-se. ‘Vejo’ disse Ta-Hsin ‘que ainda está contigo!’. A esta observação Fa-Yung alcançou o perfeito despertar, e os pássaros nunca mais lhe trouxeram flores.

PÉROLAS DE SABEDORIA ZEN

- Os yoges imaculados não entram no nirvana, os monges violadores de preceitos não vão para o inferno”

- Uma centopéia passeava feliz e despreocupada pelo jardim quando um sapo perguntou com qual das suas cem pernas ela começava a caminhar. Enredada por essa questão, a centopéia, coitada, nunca mais passeou feliz e despreocupada pelo jardim.

- Antes de estudar o zen, as montanhas são montanhas e os rios são rios. Enquanto estudamos o Zen, as montanhas deixam de ser montanhas e os rios deixam de ser rios. Uma vez alcançada a iluminação, as montanhas voltam a ser montanhas, e os rios voltam a ser rios.

- O carvalho foi poupado pelo machado porque não servia para nada; conseguiu ser inútil, o que para ele foi da maior utilidade.

PÉROLAS DE SABEDORIA CRISTÃ.

- Eu vivo, mas já não sou eu, mas o Cristo que vive em mim. São Paulo.

- Peça e lhe será dado; procure e encontrará; bata à porta, e ela lhe será aberta. Mateus.

- Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti. S. João 17, 21.

- O que dizem ser Deus, não é; o que não dizem ser Ele, isto Ele é, mais do que se diz que Ele seja. Mestre Eckhart.

- Põe em mim, Senhor, aquilo que devo oferecer-te (...) Eu buscava erradamente fora o que estava dentro, enviei ao exterior todos os meus sentidos para buscar-te, não te encontrei. Afligi-me longamente a buscar-te fora de mim quando habitas em mim quando simplesmente te desejo. Santo Agostinho.

- Havia em meu coração um tal fogo de amor divino que não me cansavam nem as genuflexões e nem penitência nenhuma. Esse fogo tornou-se tão ardente que, se eu ouvisse falar de Deus, gritava. Mesmo se alguém levantasse um machado acima de minha cabeça para me matar, eu não poderia reter-me. Ângela de Foligno (mística cristã do século XIII)

- (...) Estamos numa perfeita e pura alegria; sabemos que fruímos mas sem saber como se frui; e sabemos que esta felicidade compreende todos os bens imagináveis, sem contudo podermos saber qual é; todos os sentidos estão de tal modo absortos e ocupados nessa alegria que não poderiam de modo algum ocupar-se de algo interno ou externo. Sta. Teresa d'Ávila.

PÉROLAS DE SABEDORIA COTIDIANA

- Não sou de dores nem de queixas. Dorival Caymmi.

- Um deus definido é um deus confinado. Ram Tirth.

- Sou o que sou, eu não douro pílula”. Caetano Veloso.

- Amor é quando a gente mora um no outro. Mario Quintana.

LÓGICA PARADOXAL E ESPIRITUAL (OU VICE-VERSA)

- O que é um é um; o que não é um, também é um (Chuang-Tzu).

SOBRE O TAOÍSMO

- A China antiga, mais do que uma Filosofia teve uma Sabedoria. Esta se exprimiu em obras de características muito diversas. Raríssimas vezes assumiu a forma de exposições dogmáticas. (…) A idéia de Tao não é específica do Taoísmo, e estes, mais do que professar uma doutrina, limitaram-se a preconizar uma Sabedoria. Marcel Granet, A filosofia chinesa.

Esse festival de rock aconteceu na Bélgica durante três dias, embaixo de uma enorme lona de circo.

Estava doidaço; acho que sou o único cara que dormiu num concerto do Pink Floyd...

A propósito: cheguei em Marseilla em 1967 (“entrei de gaiato num navio”, como diz o Herbert Vianna), e fui direto tomar o trem para Paris. Malinha comportada na mão e sapato Vulcabrás no pé - brasileirinho típico e tímido, saindo de uma repressão braba -, quando entro no saguão da estação, tive um choque existencial profundo: dezenas de jovens de cabelos compridos, calças boca-de-sino, mochilas nas costas, “baseados” rolando aqui e ali.

Caramba! Seria um sonho? Quem sabe, uma alucinação fugaz; um delírio passageiro, talvez?

Estaria eu, por acaso, nas portas do paraíso?

Esfreguei os olhos, respirei fundo e, de mansinho, me acheguei.

Como quem não quer, fumei unzinho que passava, distraído, de mão-em-mão.

E foi então que, tranquilão, pensei com meus botões:

“The right man in the right place”.

Perdi o trem, e nunca mais fui o mesmo....



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

E VIVA O GLORIOSO FLUMINENSE, CAMPEÃO DO BRASILEIRÃO DE 2010!

Tenho a honra, a glória e a alegría de ser Fluminense graças ao meu avô materno Luiz de Azevedo Sodré que, na sua época, foi um grande médico nessa cidade e um dos primeiros sócios fundadores do Fluminense Footbal Club.


NELSON RODRIGUES.

- Sou tricolor, sempre fui tricolor, eu diria que já era tricolor em vidas passadas, antes, muito antes, da presente encarnação.

- O Fluminense é o único time tricolor do mundo. O resto são só times de três cores.

- O Fluminense nasceu com a vocação da eternidade. Tudo pode passar, só o tricolor não passará, jamais.

- Ser tricolor não é uma questão de gosto ou opção, mas um acontecimento de fundo metafísico, um arranjo cósmico ao qual não se pode – e nem se desja – fugir.

- Eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. E podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos.

PENSAMENTOS / REFLEXÕES / CERTEZAS E DÚVIDAS QUE GOSTARIA DE TER TIDO

LOUIS PAWUELS
- Creio que tenho uma alma.
Creio em minha alma justa e infinita.
Esta fé nada tem a ver com a minha pessoa. Contudo, procuro conduzir minha pessoa à sabedoria, em consideração para com a minha alma.
Isto é tudo em que creio.


- Minha alma diz-me: autorização concedida; acredita no que tu desejares dentro do possível; dou-te razão se escolheres, entre tantas incertezas, a crença que for mais bela a teus olhos. Mas tua arte e tua glória não estão nisso. Tua arte e tua glória estão, simplesmente, em viveres.

- Aquilo que é efêmero no homem deseja movimentos e paixões e aquilo que é eterno deseja repouso e indiferença.

- As salas de espera nunca são lugares agradáveis. Se eu decidir ver esse mundo como um lugar de espera, então, sentir-me-ei flutuando, oprimido, inquieto, sem unidade, sem contato.(...) Se eu pensar que esse mundo não é mais que a espera de outro mundo, quem serei eu? Um nômade bloqueado numa galeria de passos perdidos. Um exilado do futuro. Uma falta de sorte num presente prisão. (...) Eu estou neste mundo, que é, simplesmente, o mundo, aqui e agora. Meu negócio é compreendê-lo e organizá-lo a fim de que a existência nele seja o mais interessante e o menos trágica possível. Essa maneira de ver atribuí à política um papel reduzido. Despoja-a de sua religiosidade. Opõe a seus desejos de poder meu desejo de presença.

Louis Pauwels, Crenças e dúvidas. Ed. Civilização brasileira, RJ, 1975. Louis Pauewls - 1920/19970 -, jornalista e escritor francês que escreveu em 1960 junto com Jacques Bergier o famoso livro O despertar dos mágicos, que fez sucesso junto a contra-cultura dos ‘60. Esse livro – uma viagem e um “barato” para os que se aventuram por suas 500 páginas - é considerado um dos marcos fundadores do Realismo Fantástico. Pauwels também escreveu um livro sobre o místico guru russo Gurdjieff e fundou, ainda com J.Bergier, a famosa revista Planete).


ANTONIN ARTAUD
- O olho de Van Gogh é de um grande gênio, porém a maneira como eu o vejo dissecar-me do fundo da tela em que surgiu não é mais o de um pintor genial neste momento, mas o de um filósofo que jamais encontrei na vida.
Não, Sócrates não tinha esse olhar, somente o desgraçado Nietzsche, antes dele, teve talvez este olhar capaz de desnudar a alma, de libertar o corpo da alma, de pôr a nu o corpo do homem, fora dos subterfúgios do espírito.

- Ninguém nunca escreveu ou pintou, esculpiu, construiu, inventou, a não ser para sair do inferno.

- Eu mesmo passei nove anos num asilo de alienados e nunca sofri da obsessão do suicídio, mas sei que, a cada conversa que tinha com um psiquiatra, de manhã, na hora da consulta, sentia vontade de me enforcar por ver que não podia estrangulá-lo.

- Há em todo demente um gênio incompreendido em cuja mente brilha uma idéia assustadora, e que só no delírio consegue encontrar uma saída para as coerções que a vida lha preparou.

- Porque a realidade é terrivelmente superior a toda história, a toda fábula, a toda divindade.

Antonin Artaud, Van Gogh, o suicída da sociedade. Ed. JoséOlympio. Artaud escreveu esse texto após visitar em 1947 a exposição de Van Gogh no Museu de L’Orangerie, em Paris. Morreu um ano depois. Esse não é um livro fácil de ler; talvez, exija um outro tipo de sensibilidade. Artaud teve uma vida complicada, com várias internações em asilos de loucos. Nos intervalos, escreveu textos sobre teatro, drogas etc. A sociedade e a sua cultura majoritária não souberam e não puderam assimilar essa mente brilhante e transgressora. Resta-nos comemorar e celebrar o seu legado, aliás como o de todos os excluídos - os fora do rebanho: os que ousaram sair dos trilhos.


THE GRATEFUL DEAD
- Quando a vida caminha fácil, o perigo bate à porta – “Uncle John’s Band” – Letra e música do The Grateful Dead. O Grateful Dead - junto com outras bandas da região de São Francisco na década de ‘60, como o Jefferson Airplane, Quicksilver Messenger Service, Country Joe and the Fisch, Big Brother and de Holding Company etc – foi, talvez o grupo que melhor e mais duradouramente uniu à sua música o seu modo de vida. Legítimo representante do que na época era chamado de Rock Psicodélico, os Dead, liderados pelo guitarrista Jerry Garcia (1942/1995), apresentavam-se em concertos públicos e gratuitos que duravam horas, embalados por generosas ofertas das mais variadas drogas. O grupo ficou famosos por suas longas improvisações ao vivo, e até hoje seus discos são uma fonte de inesgotáveis prazeres para todos nós que amamos o velho e bom roquenrol).

SOBRE LIVROS:

Mikal Gilmore, Ponto Final. Crônica sobre os anos ‘60 e suas desilusões. Ed. Companhia das Letras, SP, 2010.

(OS ANOS ’60)
- Nixon não passa de um reles escroque e um implacável criminoso de guerra que, ao bombardear o Laos e o Camboja, matou mais pessoas do que as que morreram no Exército americano durante a Segunda Guerra Mundial, e nunca admitiu isso. Quando estudantes da Kent State University, em Ohio, protestaram contra os bombardeios, ele atuou por baixo dos panos para que fossem atacados e mortos por soldados da Guarda Nacional. Alguns dirão que palavras como rebotalho e vagabundo não devem ser usadas no Jornalismo Objetivo – é verdade, mas essas pessoas não percebem que a questão não é essa. Foram os pontos cegos das regras e normas desse jornalismo que, em primeiro lugar, permitiram que Nixon se esgueirasse até a Casa Branca”. Capítulo: “Hunter S. Thompson. O último fora da lei”.

- Qualquer um que beba muito regularmente o faz por várias razões. Pode ser uma inclinação genética ou um transtorno emocional, problemas aos quais a bebida parece dar uma trégua rápida. Mas há outras razões: a bebida – como as drogas – oferece inspiração, se consumida em doses moderadas. Além disso, a bebida – como as drogas - dá a sensação de uma aventura selvagem ou audaciosa. Ela lhe dá permissão para qualquer tipo de comportamento – às vezes engraçado ou bobo, às vezes tão horrível que chega a ser inacreditável. O problema é que essas vantagens têm vida curta, cada vez mais curta à medida que as noites passam, da mesma maneira que se reduz a expectativa de vida de quem bebe muito. Capítulo: “Jim Morrison e o Doors: as virtudes do desperdício”.

- Morrison [Jim Morrison, cantor da banda de rock The Doors, morto aos 27 anos num quarto de hotel em Paris, de ataque do coração por excesso de drogas], é verdade, poderia ter tido uma vida mais longa, mas não foi isso que escolheu. Ele resistiu a tudo que pudesse conter seu vigor, e decidiu crescer se negando a si próprio. Algumas pessoas, como muitos de nós aprendemos, simplesmente não podem ser salvas de si próprias. O declínio se torna parte dos desígnios de sua vida. Da mesma maneira, Jim Morrison teve a determinação de superar a autonegação através de uma obra bela e sombria, que, passados mais de 35 anos de sua morte, ainda tem boas razões para resistir e comover. Que se dê a ele esse crédito. Capítulo: “Jim Morrison e o Doors: as virtudes do desperdício”.


André Compte-Sponville. “ O alegre desespero”. In: Edmond Blattchen, Nomes de Deus. Ed. Unesp.

(O ATEÍSMO)
Crer em Deus é crer que tudo estará bem, amanhã ou depois de amanhã: que, no fundo, vivemos no melhor dos mundos possíveis, e, sobretudo, que depois da morte o essencial estará adquirido.
Ser ateu é o contrário. É pensar que nem tudo estará melhor amanhã, que nada está jamais adquirido nem prometido, enfim, que todas as nossas esperanças só desembocam, no fim das contas, no nada. Não é o mais fácil, mas, ainda uma vez, a esperança, o conforto ou a facilidade não são argumentos. É o que Clément Rosset chama de “a lógica do pior”: tomemos as coisas pelo pior, mas também pelo mais provável, pois, desse pretenso Deus, não se conhece nada, dessa vida após a norte não se conhece nada; o que constatamos é a vida como ela é, e a morte como ela advém.
E, diante desse pior, tentemos viver o melhor do que somos capazes. Tentemos atingir a maior felicidade possível, tentemos amar tanto quanto podemos!


(O BUDISMO)

O budismo, como aliás as sabedorias gregas, é para nós um exemplo precioso, precisamente porque nos oferece o exemplo de uma espiritualidade sem Deus. E de uma verdadeira espiritualidade que, no Oriente budista, inclui as dimensões extremas da vida espiritual, que se qualificam comumente de místicas. O que o Oriente – e especialmente o Oriente budista, que é o menos religioso dos Orientes – nos ensina é que a vida espiritual não se reduz à vida religiosa, que o espírito do homem não se reduz a essa relação, pretensamente pessoal com um Deus trasncendente, mas pode ser simplesmente uma maneira de habitar a vida, o mundo, o universo. Uma maneira de viver suas relações consigo, com o real, com outrem – com tudo.
O senhor evoca a ataraxia dos epicuristas, dos estóicos, ou seja, a serenidade, ou seja, a paz consigo; é preciso acrecentar philia, “a amizade”, ou seja, a paz com outrem. Creio que uma vida bem-sucedida é uma vida em paz; em paz consigo, a serenidade, em paz com outrem, a amizade, como diziam os gregos. O amor, como se dizia antes no Ocidente cristão, mas, no fundo, é a mesma coisa. O essencial a se viver está deste lado
.

André Compte-Sponville. Filósofo francês, autor de inúmeros livros, entre os quais O Espírito do Ateísmo, e Bom dia angústia!, editados pela Marins Fontes. Clément Rosset é outro filósofo bastante interessante, autor ,entre outros livros, de A lógica do Pior, e Princípio de Crueldade. Todos esses livros estão disponíveis em português. Mas, atenção: filósofos, em geral, não são fáceis de ler; em compensação, como já disse numa entrada anterior do blog, se você entende tudo o que um filósofo diz, bem, pode jogar fora, que ele não deve ser bom…

PENSAMENTOS / REFLEXÕES / CERTEZAS E DÚVIDAS QUE GOSTARIA DE TER TIDO

- Enquanto houver champagne, há esperança. Zózimo Barroso do Amaral (1941/1997). Jornalista, trabalhou n’O Globo e na fase áurea do falecido Jornal do Brasil. Tinha uma coluna de fatos e fofocas, lida por toda a sociedade elegante do Rio de Janeiro. Em 2001, não se sabe bem porque – ou, pelo menos EU não sei bem porque -, foi imortalizado através de um estátua localizada no final do Leblon.

- Se você puder servir uma xícara de chá de maneira adequada, pode fazer qualquer coisa. Gurdjieff. George Gurdjieff (1866/1949) foi um mestre, um guru, um místico que agitou com seus ensinamentos esotéricos a Europa em meados do século XIX. Como todo grande sábio é também um grande charlatão, Gurdjieff, sem dúvida, foi um grande sábio.


De resto, é como disse Tennessee Williams: a vida é boa, com exceção do terceiro ato…

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

PÉROLAS DA SABEDORIA CHINESA

“Yang Zhu disse: ‘Bo Yi tinha desejos. Sua luta pela pureza o levou a morrer de fome. Liuxia Ji tinha paixões. Sua luta pela castidade o deixou sem descendentes. Pureza e castidade foram perversões do bem.’”
Yang Zhu. In: Lie Tse, Tratado do Vazio Perfeito. Ed. Landy, SP, 2001.

O LOUCO GATO

Krazy Kat - Why is "lenguage" Ignatz?
Ignatz
- Language is what we may understand one another.
Krazy
- is that so?
Ignatz
- Yes, that's so.
Krazy
- Can you unda-stend a finn, or a leplender, or a oshkosher, huh?
Ignatz
- No.
Krazy
- Can a finn, or a leplender, or a oshkosher unda-stend you?
Ignatz
- No.
Krazy - Then, I would say, language is that we may mis-under-stend each udda!

Krazy Kat foi um personagem de HQs criado em1913 pelo desenhista George Herriman (1880/1944). Herriman gostava de brincar com a linguagem, misturando línguas e dialetos diversos, quando não, criando a sua própria língua. Pessoalmente, considero que essas tiras constituem hoje uma rica fonte de pesquisa no campo da Filosofia da Linguagem. A Filosofia da Linguagem é um nicho, um lugar dento da filosofia que estuda a relação entre as palavras e o seu significado na realidade. Pessoalmente, gosto de um filósofo chamado Wittgenstein, que não é fácil de ler, nem de entender – gosto de brincar dizendo que, se você entende um filósofo, pode jogar fora que ele não é bom –, mas a partir do qual tive alguns insighs fundamentais para o meu estudo sobre a linguagem do zen, isto é, para entender como ele estrutura a sua linguagem, se apropriando da espiritualidade - sem qualquer racionalidade aparente. Bem, voltando ao nosso louco gato, Ignatz era o rato pelo qual Krasy estava irremediavelmente apaixonado, e que passava toda a história tentando jogar um tijolo em sua cabeça (o gato tomava isso como um sinal de afeto). Havia ainda, completando o trio, o cachorro policial - o oficial Pupp - cuja função era prender Ignatz pelos tijolos arremessados na cabeça de Krasy Kat.
Entre nós, a tira foi publicada n'O Tico-Tico.

REFLEXÕES QUE GOSTARIA DE TER FEITO

- Acho que qualquer um que não reconheça que tem um lado sombrio, um lado que não é realmente bom, está cometendo um erro. Johnny Cash (1932/2003). Compositor e cantor americano de música country, uma das grandes influências de Bob Dylan, com quem gravou Nashville skyline. Morreu de problemas decorrentes do diabetes, depois de toda uma vida na estrada, regada com muita droga e bebida.

- Entre a certeza do saber e a incerteza do ser, temos a natureza que, simplesmente, é. Georges Lacombe. Georges é um dos muitos talentos recrutados pela IBM, perito nas artes/manhas da informática. Nas horas vagas, é também um impecável filósofo taoísta.

- Se as Portas da Percepção estivessem abertas, tudo se mostraria ao homem tal como é, infinito. Willian Blake (1757/1827). Poeta, pintor e visionário inglês. O filósofo e escritor Audoux Huxley (1894/1963) também escreveu um livro, Portas da Percepção, sobre as (suas) experiências com drogas, especialmente, a mescalina. Jim Morrison (1943/1971), por sua vez, poeta, cantor e compositor de rock, batizou sua banda como The Doors, em homenagem a ambos.

- Bebo porque assim posso falar com os babacas. Eu inclusive. Jim Morrison. Morrison morreu aos 27 anos na banheira de um quarto de hotel em Paris de um ataque cardíaco após uma noite regada com bebidas e drogas diversas.

POEMAS QUE GOSTARIA DE TER ESCRITO

ALLEN GINSBERG
Mensagem
(...)
Há muito tempo tenho estado só.
Há muito tempo tenho estado na cama
Sem ninguém para pegar no joelho, homem
ou mulher, pouco importa, eu
quero o amor, nasci para isso quero você comigo agora

Transatlânticos fervem no oceano
Delicadas armações de arranha-céus sobre Lakehurst
Seis mulheres nuas dançando juntas num palco vermelho
As folhas agora estão verdes em todas as árvores de Paris
Chegarei em casa daqui há dois meses e olharei nos teus olhos.

Allen Ginsberg. In: Uivo. Kaddish e outros poemas. Ed. LP&M, Porto Alegre, 1984. Allen Ginsberg (1927/1997), agitou a consciência americana nos anos ’60. Junto com Jack Kerouac e William Burroughs, ajudou, com sua obra poética, não só a transformar a Beat Generation numa sólida experiência literária, como, sobretudo num campo fértil de idéias, comportamentos e valores, a partir dos quais o mundo nunca mais seria o mesmo.

ALBERTO CAEIRO

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...

Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-à fazendo de nós
como as árvores são árvores
E como os regatos são regatos.

E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir quando acabemos...

E não nos dará mais nada, porque dar-nos mais seria tirar-nos mais.

Alberto Caeiro, Fernando Pessoa, Poesia Completa de Alberto Caeiro. Ed. Schwarcz, SP,2005. Alberto Caeiro (1888/1995), um dos muitos “outro de si mesmo” que Fernando Pessoa inventou e deu vida e arte próprias. Pessoalmente, considero Caeiro um perfeito filósofo taoísta, e tenho como projeto – quem sabe, um dia. – fazer um estudo comparativo entre sua obra e a de Lao-Tsé. Quer dizer, comparando-os, abordar Caeiro como poeta taoísta e Lao-Tzé como poeta simbolista
.

CHARLES BUKOSWKI

Estilo
Estilo é a resposta para tudo
É uma maneira fácil de se fazer alguma coisa perigosa.
E fazer alguma coisa perigosa com estilo,
É o que eu chamo de arte.

Uma tourada pode ser arte
Boxe pode ser arte
Amar pode ser arte
Abrir uma lata de sardinhas pode ser arte.

Quando Hemingway disparou sua escopeta contra sua cabeça
Teve estilo.
Tem pessoas que têm estilo:
Joana D’Arc, Jesus, Sócrates, Julio César.
Estilo faz a diferença.
O jeito de se fazer.
O jeito de ser feito.

Seis garças tanquilas na beira de um lago
Ou você, saindo nua do banho, sem me ver.

Charles Bukoswi. Transcrito diretamente do filme Crônica de um amor louco, de Bernardo Bertolucci. Charles Bukoswki (1920/1994), poeta e escritor marginal, outsider de uma América subterrânea, povoada pelos derrotados, perdidos e malditos; porta-voz alucinado dos que não encontraram seu lugar no rebanho.

SOBRE DROGAS E OS ANOS ‘60

As drogas dos anos ‘60 e ‘70 eram mais divertidas, a gente podía falar sobre elas, eran aceitáveis porque aguçavam a consciência e não levavam a becos sem saída. Não estou dizendo que tivessem quaisquer qualidades redentoras, mas pelo menos era isso que as pessoas pensavm na época: tratava-se de um caminho para abrir a mente e ir além.
Hoje, no entanto, as drogas são fatais, absolutamente perigosas. Não têm mais nada a ver com a intensificação do grau de consciência. A idéia é embotar a consciência, partir para o escapismo. É apenas uma coisa pervertida, e é por isso que eu acho que hoje é totalmente irresponsável e ignorante cantar as drogas de maneira positiva.

Dickey Betts, um dos dois guitarrista do TheAllman Brothers (o outro era Duane Allman, talvez o melhor guitarrista daquela geração, morto aos 23 anos num desastre de moto), uma das principais representantes do rock sulista, “caipira”, na cena do rock dos anos ‘60/70. Faziam um rock pesado, de excelente qualidade, como se pode ver nos álbuns Live at Filmore East, e Eat a peach.

SOBRE ARTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Isso pode parecer o mais batido chichê do século XIX, mas em meio aos meus pequenos problemas pessoais, consegui me dedicar à arte, ou chame isso como quiser. Eu me dediquei à arte e, ao produzir arte, encontrei conforto e força. Quer dizer, dizendo assim, parece horrível, mas eu me dediquei a fazer o que sabia, e fiz canções. E, ao fazer essas canções, muito da dor de minha vida se dissolvia. E isso é uma das coisas que a arte faz – ela cura.
Leonard Cohen. Poeta e compositor de origen canadense. Nos anos ‘60 escreveu um livro, Beautiful losers, jamais traduzido entre nós. Seu disco, Songs from a Room, também jamais editado entre nós, é um dos grande clásicos do soft rock, e sua música Suzanne, roda o mundo até hoje nas mais diversas releituras
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

ATENÇÃO:

Tem texto novo na parada! É só clicar “O ‘Bota-Abaixo’” que ele entra direto.

REFLEXÕES OCIOSAS

- Durante toda a vida lutei para mudar o mundo. Hoje, minha luta é para mudar minha própria cabeça.

- Há poucos pensamentos tão existencialmente enriquecedores no cotidiano quanto os que surgem na solidão de uma janela de ônibus.

LEMBRANÇAS...

1) Petitmot – Era um tio que eu curtia, Luiz Fernando (Tio Lulu), apesar de vê-lo vez ou outra. Quando isso acontecia, ele sempre me chamava de Petitmot. Não sabia o que isso significava, mas gostava de ser chamado assim por ele. Acho que isso me singularizava perante os demais primos. Esse tio já morreu há muitos anos, e eu nunca soube o porque desse apelido singular, único, designando um garotinho como eu. Hoje, sou um cara tímido, introspectivo, calado, de pouca palavras. Será que o Tio Lulu, de algum modo sacou, intuiu esse meu modo-de-ser futuro - Petit-Mot - , que marcaria tão peculiarmente toda a minha vida?

2) Se faire remarquer – Fui uma criança levada, pelo menos aos olhos de uma tia severa, Luzia (Zizi), que morava conosco num casarão da Jardim Botânico. Às vezes, ela se virava para os outros adultos e, referindo-se à mim, dizia: “se faire rémarquer”. Nunca soube o que isso significava até que, muitos anos depois, essa frase, sem mais porquês, me veio subitamente à cabeça e... e de repente, tive a minha infância toda de volta numa rua qualquer de Paris.

3) Gravatinha. Tive uma outra tia, Maria Cecília (Micici) – só usava camisa xadrês e só entrava na piscina com seus óculos de grau - que teve a gentileza de me ensinar a fazer aquele nó final da gravata em volta do pescoço para a minha primeira festa de formatura. Presumo que devia ter uns quinze anos, e ainda tenho a foto, junto com um amigo, celebrando esse importante evento. Bem, a partir daí, ela me brindou com esse apelido, exclusivo dela, que, por toda a nossa vida – ela já se foi há alguns anos – enriqueceu e alegrou os nossos encontros.

4) Diletante – Quando fazia mestrado em filosofia na PUC, tive um professor que certa vez escreveu num trabalho que eu havia feito: “você não passa de um diletante!” Assustado e magoado com essa sentença - com direito até a ponto de exclamação - que desabou sobre minha cabeça, fiquei remoendo dias e dias até que resolvi –já que eu era um diletante, que tal saber com rigor o que isso significa? – consultar um dicionário. E aí veio o alívio e a surpresa redentora: “Diletante: aquele que faz as coisas por prazer e não por obrigação”. Bem, nunca pude agradecer àquele professor por ter me devolvido a mim mesmo.

5) Juca e Chico – Personagens de uma história infantil que povoou minha infância. Guardo com carinho dois exemplares: Juca e Chico e O Fantasma Lambão. (Naquela época, não havia, como hoje, todo um mercado voltado para o público infantil). Muitíssimos anos depois, estudando as caricaturas, as charges e as histórias quadrinhos na Fundação Casa de Rui Barbosa, descobri que o autor daquelas historinhas da minha infância chamava-se Wilhem Busch, e que ele é considerado um dos pioneiros das HQs. (Discordo!).Verifiquei também que elas tinham sido traduzidas por Olavo Bilac,sob o pseudônimo de Fantasio (observação: na capa do livrinho vem assim: “Tradução de Fantásio” e, logo em baixo, em parêntesis, Olavo Bilac. Ora, se ele bolou um pseudônimo, devia ser porque não queria ser reconhecido, certo? Depois, falam mal do português...). Bem, tenho pensado em propor um projeto de reedição com dois estudos: um sobre o autor, e outro sobre Olavo Bilac como tradutor. Tou pensando, tou pensando...

VERSOS, FRASES, PENSAMENTOS QUE GOSTARIA DE TER TIDO/DITO/ESCRITO

- Nossas idas se fazem por meio de outras vidas, e essas por meio das nossas. Roberto DaMatta.

- O pensamento nunca deve ser autorizado senão por si mesmo. Francisco Bosco.

- A moralidade não me ajuda; sou daqueles feitos para as exceções, não para as leis. Oscar Wilde.

- Talvez a experiência psicanalítica sirva não para trazer a felicidade aos seres humanos, o que me parece tarefa impossível, mas para ajudar um sujeito a ficar um pouco mais confortável com a tristeza que carrega. João Paulo Cuenca.

COISAS D'ANTANHO


Estavaàtoa perambulando pela Lapa quando me deparei com essa improbabilidade do cotidiano, dessas, que desafiam o próprio tempo. Repare a pomba compondo o imprevisto e o inusitado de toda a cena.


O anúncio, a ruazinha e o sobrado: ontens do tempo que permanecem no seu hoje.

RETIFICAÇÃO:

1) - Na última ou penúltima entrada do blog escrevi: “É o livro que te acha”. Bem, tenho tanta certeza disso que, quando a frase me veio à cabeça, achei que era minha. Mas não!, ela é do José Mindlin: “É o livro que te encontra”.

2) – Putz, errei de Santo! Na foto dos santos em Fortaleza, não se trata de são Damião - aliás, porque não de são Cosme? -, mas de santo Expedito. Bem, espero que os dois me perdoem...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

SÃO JORGE E SÃO DAMIÃO.

A anônima fé numa rua qualquer de um bairro qualquer em Fortaleza.

ONDE AS BUXAS PASSAM AS FÉRIAS.


Conversei com aquela bruxa que mora num sobrado na Rua Bambina – ver "Casa da Bruxa": quando ela sai de férias vai para esse resort de luxo, em pleno centro de Fortaleza.



MARAVILHAS DO DIA-A-DIA


O cotidiano que, às vezes passa, mas não se vê, numa rua qualquer de um bairro qualquer em Fortaleza (tudo depende da composição da foto).

OBELISCO DA FÉ


Desde sempre os homens celebraram com monumentos diversos a sua fé no transcendente.

Desde recentemente, os homens deram para emporcalhar seus monumentos diversos, sem se importar com fé alguma.

Esse, pichado até o topo na avenida de Fortaleza que leva ao Mercado Municipal, permanece - como outros - um mistério para mim: como é que eles conseguem?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

VERSOS, FRASES, PENSAMENTOS QUE GOSTARIA DE TER TIDO/DITO/ESCRITO

- Em primeiro lugar, é preciso não fazer da realidade um constrangimento ao pensamento. Em seguida, é preciso fazer do pensamento um constrangimento para a realidade. Thamy Pogrebinschi.

- (...) Qualquer tentativa de se pensar com a própria cabeça é posta sob suspeita. Não por acaso, Vilém Flusser* teve que se exilar do Brasil, onde não era aceito justamente por conta de insistir em ter idéias. Márcio Seligmann-Silva.

* - Filósofo theco radicado em São Paulo desde1941 quando fugiu do nazismo. Em 1971 deixa o país após a sua não re-contratação para o depto de filosofia da USP (bem, se não foi rigorosamente assim, foi mais ou menos assim).

FORTALEZA SKYLINE

Fortaleza 2010

Quando tirei essa foto, da cobertura do meu hotel em Fortaleza, me lembrei da música do Bob Dylan “Nashville skyline”. Esse pôr do sol foi incrível; acho que experimentei esse pouco dessa iluminação cotidiana que cabe a cada um. (Desde que cada um tenha consciência disso – isto é, desde que saiba misturar o que vê com o que é).

A PAZ DAS PROFUNDEZAS

Fortaleza 2010


Quando estudava no São Bento, lá pelos idos dos ’60, havia um jornalzinho, se não me engano “O Avante”, que tinha como epígrafe: “As mais terríveis tempestades, são incapazes de perturbar a paz das grandes profundezas”. Ao ver essa jangada “singrando os mares” de um pacato beira-mar em Fortaleza, não sei porque, imediatamente me lembrei disso. Se, por acaso, alguém aí estudou no São Bento na década de ‘60, por favor me diga se o nome do jornal era mesmo esse, e se a epígrafe era mesmo assim.

sábado, 13 de novembro de 2010

EU E A ESFINGE


O barato de se perambular pelas ruas de uma cidade desconhecida é que você encontra as mais incríveis improbabilidades, como essa na Praça do Ferreira em Fortaleza. Mas, como tudo, tudo pode ter uma interpretação, dependendo de como se vê – e de como se fotografa. Repare: de um lado, a luz, quer dizer, a razão humana; de outro a esfinge, o lado escuro, símbolo do que, em nós, jamais será decifrado.
(E eu parado, - digamos, 20 segundos de minha existência no tempo - tirando essa foto. No fundo, o que é mais obscuro: a razão humana, a esfinge, ou isso que está em mim batendo essa foto e que eu chamo de eu, mas que não sei de onde veio, nem para onde vai?).

A MANDALA


Mandala disfarçada de vitral na Catedral de Fortaleza. Mandala em sânscrito significa “círculo”, a perfeita “representação geométrica da dinâmica relação entre o homem e o cosmos” (Wikipédia). Para Jung, ela é uma representação simbólica da psique, cuja função é consolidar o mundo interior do sujeito através da idéia de totalidade: uma representação simbólica da totalidade da psique humana. No Budismo, em suas várias escolas, ela é usada como forma de aprofundar a meditação. (Ver de C.G.Jung, Os arquétipos e o inconsciente coletivo”, Ed. Vozes, Petrópolis, 2002, e O homem e seus símbolos, Ed. Nova Fronteira, RJ, 2002. Ver também, de R. Moacanin, A psicologia de Jung e o Budismo tibetano. Ed. Cultrix, SP, 1999).

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O BAOBÁ


Magnífico Baobá situado na Praça do Ferreira em Fortaleza. O Baobá é uma árvore centenária – essa, segundo soube, tem mais de 200 anos. Li O pequeno príncipe de Antoine de Saint Exupéry, e me lembro que o medo do principezinho era que os Baobás e suas raízes inundassem seu pequeno asteróide. O que? Você nunca leu o Pequeno príncipe? Por puro preconceito? Então, corra rapidinho à uma livraria e se delicie com essa pequena obra-prima da literatura mundial que foi banalizada - inocentemente - pelos concursos de misses de antigamente.

domingo, 7 de novembro de 2010

A GOTA NO OCEANO

Gosto de pensar que tenho uma alma.
Bem, “ter” não é a palavra correta pois, na verdade, ela está em mim provisoriamente.
Não se trata de uma questão de fé, embora muitos crêem que a têm por pura fé.
Gosto de pensar que “algo” me emprestou essa alma, se bem que não consiga saber exatamente “quem” ou “porque”.
Ter uma alma envolve comportamentos diversos. Quanto aos meus, bem, espero que me justifiquem e estejam a altura do empréstimo.
Se é que a minha alma vai para algum lugar, depois de mim, não sei para onde vai.
(As ondas do mar, no seu incessante vai-e-vem – sempre se transformando e sempre sendo o que são – vão, afinal, para algum lugar?).
Sim, gosto de pensar que ela é assim como essa gota,
que salta no mar, ao mesmo tempo dentro e fora dele.
E gosto de pensar que quando eu não for mais eu – empréstimo resgatado, fatura liquidada – essa alma vai ser assim como essa gota, dentro e fora, da imensidão do mar.

VIDA

Sem certeza ou consolo,
Tudo é busca, dúvida, solidão...
E certo gosto de abismo.
Lorca fuzilado,
Lennon abatido,
Artaud pirado,
Beethoven surdo,
Cobain dilacerado,
Borges cego,
Rimbaud amputado.
(E a melancolia de Wirgínia Wolf e Walter Benjamin).

Não, amigo,
A vida não vem com manual de uso,
Selo de garantia,
Nem certificado de qualidade.

ZEN

1
Sem intenção.
Só ser.
Sem onde/sem quando/sem porque.
2
Solidão voluntária.
Síntese:
só ser com ser só.
3
O silêncio do zen não é ausência,
mas condição e qualidade.
Não é renúncia:
quando cada coisa “fala por si”,
inútil “falar sobre”.
Calar é perceber o indizível que habita a linguagem.
O não dito do dito dito.