sexta-feira, 29 de abril de 2011

SABEDORIAS PROFANAS

- A morte não significa nada para nós justamente porque quando estamos vivos, a morte não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. Epicuro.

- Depois que perdi a fé foi como uma libertação; tudo se tornava mais simples, mais leve, mais aberto, mais forte! Era como se eu saísse da infância, dos seus sonhos e medos, dos seus suores, dos seus langores, como se eu entrasse enfim no mundo real, o dos adultos, o da ação, o da verdade, sem perdão e sem Providência. Que liberdade! Que júbilo! Sim, tenho a sensação de viver melhor – mais lucidamente, mais livremente, mais intensamente – desde que sou ateu. André Comte-Sponville.

- O único jeito sensato de viver no mundo é sem regras. Coringa.

LA ARAÑA SACA LA TELA DE SI (Vedas)

Temible, múltiple, de ojos y movimientos
La araña saca la tela de si, se desliza
juega en el espacio
y diseña su tecido.
Invisible a los ojos de los tontos.
Está allí. Atrapa lo desechable
Y el univrso permanece vivo.
Rocio Domingues Morillo. El camino del Este. Uma aproximación al arte oriental.

PSICOSTASIS

Para os antigos egípcios, pouco depois da morte se produzia a “pesagem da alma”. Uma pluma da deusa Maât era colocada no pratinho da balança e o coração do defunto no outro.
Para que a alma não fosse condenada e pudesse empreender livremente seu vôo, o peso do coração não podia exceder o da pluma.
Durante toda a sua vida, o indivíduo devia procurar, então, adquirir a leveza do pássaro.
Tradução pessoal. Éric Sablé, La sabiduría de los pájaros. Ed. José J. De Olañeda, 2002, Palma de Mallorca.

RECUERDOS DE BUENOS AIRES (Final)

E a silhueta do fotógrafo por trás do cartaz é a garantia da insanidade que preside a sanidade final de toda obra de arte.


Esses dois cartazes foram fotografados dentro da exposição da artista Louise Bougeois no museu da Fundação PROA no bairro da Boca. Em setembro ela vem para o Rio: é imperdível.

Esse é o Gardelito, emérito imitador de Gardel pelas praças de Buenos Aires. Essa foto foi tirada na “Feira de antiguidades de San Telmo” quando eu pedi que ele cantasse “Por uma cabeza” que é um dos tangos que eu mais gosto. Depois, evidentemente, tive que pagar esse mico ficando ao lado dele - para deleite dos turistas que passavam e tiravam fotos.
---------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------

terça-feira, 26 de abril de 2011

REFLEXÕES OCIOSAS.

- Paradoxos da ciência: saber como funciona não significa saber porque existe.

- A vida é líquida: as vezes gota, as vezes oceano.
POEMAS QUE GOSTARIA DE TER ESCRITO.

Quando vier a primavera
seu eu já estiver morto
as flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Alberto Caeiro.

O poeta universal conduz todos os poetas.
Segura a mão deles e faz a poesia.
E o poeta, perplexo, apenas observa.
Georges Lacombe.
Originalmente isso não é um poema, mas uma reflexão do Georges num dos comentários que ele fez, e que eu transformei nessa poesia. É que achei essa idéia de um poeta universal bastante interessante.
EL PALACIO AMARILLO
(Al maestro Quian Lan Gem)

Em um Valle minúsuclo de um centímetro
entre los ojos
habita el esplendor del castillo amarillo
por el arco de la nariz desciende um rio de energia.
Apenas se entrecierran los párpados (pálpebras),
se encienden las luces de todo el palacio.
Rocio Domingues Morillo. El camino del Este. Uma aproximación al arte oriental.

UM POUCO DE DOM JUAN/CASTANHEDA NA VEIA NÃO FAZ MAL A NINGUÉM.

- Ser um feiticeiro, não significa praticar bruxaria, ou trabalhar para afetar as pessoas. Ser um feiticeiro significa alcançar um nível de consciência que dá acesso a coisas inconcebíveis.(...) As ações dos feiticeiros existem exclusivamente no reino do abstrato, do impessoal. Os feiticeiros lutam para alcançar uma meta que nada tem a ver com as buscas do homem comum. As aspirações dos feiticeiros são alcançar o infinito e ser consciente dele.

- O seu vazio era o vazio do guerreiro-viajante, experiente ao ponto de não considerar nada como certo. Um guerreiro-viajante que não subestima ou superestima nada. Um lutador sereno, disciplinado, cuja elegância é tão extrema que ninguém, não importa o quanto se esforce para ver, jamais encontrará a costura onde toda essa complexidade se reúne.

- Dom Juan definiu silêncio interior como um estado especial de ser em que pensamentos são cancelados e pode-se funcionar a partir de um outro nível que não o da consciência cotidiana. Enfatizou que o silêncio interior significa a suspensão do diálogo interno - o eterno companheiro dos pensamentos - e, portanto, era um estado de profunda quietude.

- Tudo é um entre um milhão de caminhos. Portanto você deve sempre manter em mente que um caminho não é mais que um caminho; se achar que não deve segui-lo, não deve permanecer nele sob nenhuma circunstância. Para ter uma clareza dessas, é preciso levar uma vida disciplinada. Só então você saberá que qualquer caminho não passa de um caminho, e não há afronta, para si nem para os outros, em largá-lo se é isso o que seu coração manda fazer. Mas sua decisão de continuar no caminho ou largá-lo deve ser isenta de medo e de ambição (...) Experimente-o tantas vezes quanto achar necessário. Depois, pergunte-se, e só a si, uma coisa (...) Esse caminho tem coração? (...) Se tiver, o caminho é bom; se não tiver, não presta. Ambos os caminhos não conduzem a parte alguma; mas um tem coração e o outro não. Um torna a viagem alegre, e enquanto você o seguir, será um com ele. O outro o fará maldizer a sua vida. Um o torna forte; o outro o enfraquece.

- O homem de sabedoria é o homem comum, exceto que o homem de sabedoria mantém sua própria loucura sob controle.
Dom Juan. Nunca consegui chegar a uma conclusão e saber a verdade sobre a obra de Carlos Castanheda (1925/1998), isto e, sobre a existência do feiticeiro Don Juan. Mas, não importa. O fato é que a publicação em 1968 do livro The teachings of Don Juan. A Yaqui way of knowledge (imbecilmente traduzido entre nós por A erva do diabo), foi uma curtição que abriu um buraco na cabeça de todos nós que o lemos. Seus ensinamentos permanecem até hoje como um dos grandes “baratos” que a contracultura deixou como legado.
Existem mais uns vinte iguais a esse na calçada desse banco. Já imaginou isso por aqui?
----------------------------------------------------------
----------------------------------------------------------

quarta-feira, 20 de abril de 2011

REFLEÇÃO SEM DOR.

Sem corpo – como quer a doutrina cristã – não há troca nem transformação.

O NIRVANA.

Esgotamento da mente.
Não mais perguntas nem respostas.
Ausência de todo desejo.
Extinção do próprio Deus.

BUDA MEDITA

Buda medita
Y por su espalda uma serpiente trepa
Y se estira combativa.
Asciendendo disputa vértebra por vértebra.
recorre por la médula sua vida
sus hechos, sus memórias
Se enfrenta a él al fin de llegar a la cabeza y estalla.
Um dourado parasol cuida desde entonces a la tierra.
Rocio Domingues Morillo. El camino del Este. Uma aproximación al arte oriental.

SABEDORIAS PROFANAS

Depois do sexo, é provável que a religião seja o segundo recurso mais antigo disponível aos seres humanos para ampliar sua consciência. Todavia, entre as multidões de fiéis, o número dos que se aventuraram muito longe através desse estado de mente também deve ser consideravelmente limitado. Susan Sontag.

- Existem atividades do espírito enraizadas no silêncio. É difícil falar delas, pois como poderia a fala transmitir adequadamente a forma e a vitalidade do silêncio? (...) A linguagem só pode lidar, de modo significativo, com um segmento especial e restrito da realidade. O resto, e é provável que seja a maior parte, é silêncio. Georges Steiner.

- Em todo o universo, dentro e fora, nada existe que se possa agarrar, e ninguém que possa agarrar seja o que for. (...) Um momento chega em que essa consciência da armadilha sem saída na qual somos, ao mesmo tempo, o caçador e a caça, alcança o seu ponto de ruptura. Alan Watts.

- Cada um elabora para si seu próprio segmento de mundo e com ele constrói seu sistema privado para seu próprio mundo. Carl Gustav Jung.

- A beleza de todo o universo criado está constituída de uma maravilhosa harmonia do semelhante e do dessemelhante, na qual os diversos gêneros e espécies e as diferentes ordens de substâncias e acidentes são compostos de uma inefável unidade. J. E. Eriúgena.

RECUERDOS DE BUENOS AIRES (6)



-----------------------------------------------------------------------


-----------------------------------------------------------------------

sábado, 16 de abril de 2011

PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR.

- Filósofos, psicanalistas e ociosos de plantão: o que é sentido, o que é significado e o que é significante (essa, os lacanianos saberão responder)? E, principalmente, qual a diferença entre eles?

- Pedro Krause, no seu comentário do meu blog anterior (é post, pai, post!) sobre as religiões afro-brasileiras lançou a hipótese de que elas sejam religiões atéias: “Talvez as religiões africanas façam parte das religiões atéias”. A tese é interessante. Em todo caso, a minha dúvida é: como pode uma religião com um panteão tão rico de deuses e orixás ser uma religião atéia?

REFLEXÕES SEM DOR.

- Custei a acertar, mas agora já sei: sempre que vou colocar alguma coisa nova no blog (já disse que é post, pai!) tenho que me lembrar de que ele subverte o ditado popular segundo o qual os últimos serão os primeiros. Nele, os primeiros serão sempre os últimos e assim sucessivamente. Sacou?

- Como disse o Georges Lacombe no comentário do último blog (caraça, pai, é post!) - Reflexões Ociosas: “de resto, continuo pedalando” -, também eu continuo tentando construir espirais cada vez mais complexas (tal como o belo design proposto para simbolizar o DNA humano). É que quanto mais complexa, quem sabe, mais simples pode se tornar a vida.

POEMA QUE GOSTARIA DE TER ESCRITO.

Entrei na padaria.
Ninguém notou.
Um cartaz dizia

O sonho acabou.
Georges Lacombe.

Lendo esse poema do Georges pensei que o significado da História (também) está no banal. Isso, de imediato, me remeteu ao Walter Benjamin. Acho que ele foi o primeiro filósofo a pensar o significado do cotidiano e do comum como conjunto de fatos inseridos no tempo histórico e condicionados por ele. Foi por isso, talvez, que ele percorreu as Galerias Parisienses, que fumou baseados com seu amigo Ernst Block, que observou a moda, os filmes de Chaplin, as gravuras de Klee; certamente, foi por isso que ele se debruçou sobre o teatro de Brecht e a literatura infantil, pelo surrealismo, pelos jogos de azar e pela prostituição (“Livros e putas podem-se levar para a cama... livros e putas remoçam muito”. In: WB, Obras Completas, vol II).
El SALMÓN
Volver de donde se ha partido
A liberar los frutos
remontando el cansacio, la vejez, el vacío,
luchando entre los golpes del torrente impiadoso.
La torrente que impide
el terror que detiene.
Volver de donde se ha partido
a derrotar el miedo
a devolver el cuerpo
a desovar el alma.

Rocio Domingues Morillo. El camino del Este. Uma aproximación al arte oriental. Comprei esse livro agora em Buenos Aires e, de início, pensei em traduzir esse poema. Depois, percebi que a sua beleza combinava com a beleza do idioma da Cervantes.

RECUERDOS DE BUENOS AIRES (4)






quinta-feira, 14 de abril de 2011

“BOEMIA, AQUI ME TENS DE REGRESSO...” (Nelson Gonçalves).

RECUERDOS DE BUENOS AIRES (2)

- Domingo, fila gigantesca diante da Grand Splendid, uma magnífica livraria de Buenos Aires, que só ia abrir ao meio-dia. Comentário da Glaucia: “Pois é, enquanto eles fazem fila para entrar em livrarias, nós fazemos fila para comer em restaurantes”. Bingo!

RECUERDOS DE BUENOS AIRES (3)






Cesped? calma gente, também me perguntei que diabos significa isso? Fui ao dicionário: cesped significa, simplesmente, grama. Aliás, o idioma espanhol tem palavras que soam saborosas para a nossa língua: sin interes (sem juros), en efectivo (à vista), embarazada (grávida), escava-dientes (palito), paraaguas (guarda-chuva), mata-fuegos (extintor de incêndios), inodoro (vaso sanitário), cocheras (garagem), pelos (cabelo), esquisito (saboroso) etc.

-----------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Depois de um longo e tenebroso inverso, eis que tal como a Fenix, renasci das cinzas, sobrevivi. Pra dar um tempo para que meu organismo e minha cabeça se recuperem, resolvemos, com o incentivo e a cumplicidade do meu médico, tirarmos uns quinze dias de férias um do outro. Assim, resolvi dar um pulo até Buenos Aires para dançar um tango e tomar um vinho com uma nova namorada que arranjei na nite: a Glaucia. Daqui há uns dez dias, tamos de volta. (Beije-me agora, e faça-me esquecer. Charles Bukowski).

CENAS CONTEMPORÂNEAS

Dois vira-latas livres dormem numa esquina qualquer de uma rua qualquer. Pinguins oleosos e banais morrem envergonhados num oleoso oceano televisivo. Sarados, malhados, apressados e envergonhados produzem novas odores, essências, fragâncias inusitadas pelas ruas encharcadas do balneário. Uma garça famélica e um peixe esquálido nas poluídas águas da lagoa. Um mendigo inocente, familiar, passeia seminu pelas ruas apressadas do bairro. (E eu e você - Perplexos - vamos indo como sempre, como é de praxe, como se supõe).

REFLEXÕES OCIOSAS.

- Hoje a noite foi curta para os pensamentos tive.

VIDA VIVIDA E VIDA NÃO VIVIDA.

Minha mãe (87 anos) e sua irmã, Tia Lucia (91 anos), numa tarde de puro ócio e curtição no sítio, puxaram pela memória e desenterraram esse poema. Evidentemente, não conseguiram mais se lembrar de seu autor. Bem, fuçando na internet, descobri: o autor é Francisco Octaviano (1825/1889). Olha só que barato: Quem passou pela vida em branca nuvem/e em plácido repouso adormeceu./Quem não sentiu o fio da desgraça,/quem passou pela vida e não sofreu,/foi espectro de homem, não foi homem/Só passou pela vida, não viveu.
Vishnu e sua esposa Lakshmi montando Garuda ou Nagari, o grande pássaro comedor de serpentes do Hinduísmo. Ganhei esse cartaz de presente de aniversário de uma namorada holandesa, numa noite gelada em Amsterdã. Ser jovem em Amsterdã nas décadas dos ‘60/70 era uma vivência espiritual profunda, uma experiência cultural única: Sexo, drogas e roquenrol.


“Ganechas” que transformei em suportes de livros.
Ganecha, o Deus Elefante, é filho de Parvati, esposa de Shiva. Repare: Na sua mão esquerda ele carrega um tinteiro; na direita um pedaço do chifre com o qual escreveu o poema épico “Mahabharata”. Ganecha, o Deus Menino da mitologia hindu, é a divindade protetora dos escritores.


Hoje, adulto, não devo nada a filosofia (a não ser, é claro, o fato dela ter me despertado para a aventura do pensamento: o exercício de ser eu mesmo).
Sou um pensador avulso, de superfície, sem filiação ou linhagem (do tipo que anda com suas pernas: curtas, mas próprias). Não sou filósofo, a não ser para mim mesmo, isto é, para dar conta - com mínimo rigor e máximo prazer - de minhas questões, conflitos e perplexidades. Não sigo esse, nem aquele; não sou isso, nem aquilo. Entre os muitos ismos, anos e istas que a filosofia contempla, a muito custo e a duras penas - e dentro de limites intelectuais severíssimos -, escolhi o guilhermismo: sou guilhermiano e guilhermista (que ambicioso e magnífico projeto: uma vida inteira pensando em si próprio, a maneira de Nietzsche e Borges). A filosofia é uma desculpa para abrigar pensamentos dos que têm prazer com os pensamentos que têm. Uma técnica de reflexão para os que gostam de pensar por si próprios sobre si mesmos, pois os filósofos, é claro!, falam exclusivamente de si próprios. Bem, uns fazem melhor, outros pior, uns sabem muito e bem, outros pouco e nem tanto. Alguns são profissionais, e muitos, como eu, amadores e diletantes. A propósito: Uma vez, um professor de filosofia, um filósofo profissional, disse que eu não passava de um diletante. Magoado, fui ao dicionário: “Dilettante: do italiano dilettare: deleitar-se com, aquele que faz as coisas por gosto e não por obrigação”. Que maravilhoso presente esse professor me deu! Nunca pude dizer-lhe o quanto ele estava certo, e o quanto estava grato por ele ter me apresentado a mim mesmo. De resto, um filósofo, diz Nietzsche, deve caminhar sozinho. Filósofos bastam-si
!