quinta-feira, 25 de novembro de 2010
REFLEXÕES OCIOSAS
- Durante toda a vida lutei para mudar o mundo. Hoje, minha luta é para mudar minha própria cabeça.
- Há poucos pensamentos tão existencialmente enriquecedores no cotidiano quanto os que surgem na solidão de uma janela de ônibus.
LEMBRANÇAS...
1) – Petitmot – Era um tio que eu curtia, Luiz Fernando (Tio Lulu), apesar de vê-lo vez ou outra. Quando isso acontecia, ele sempre me chamava de Petitmot. Não sabia o que isso significava, mas gostava de ser chamado assim por ele. Acho que isso me singularizava perante os demais primos. Esse tio já morreu há muitos anos, e eu nunca soube o porque desse apelido singular, único, designando um garotinho como eu. Hoje, sou um cara tímido, introspectivo, calado, de pouca palavras. Será que o Tio Lulu, de algum modo sacou, intuiu esse meu modo-de-ser futuro - Petit-Mot - , que marcaria tão peculiarmente toda a minha vida?
2) – Se faire remarquer – Fui uma criança levada, pelo menos aos olhos de uma tia severa, Luzia (Zizi), que morava conosco num casarão da Jardim Botânico. Às vezes, ela se virava para os outros adultos e, referindo-se à mim, dizia: “se faire rémarquer”. Nunca soube o que isso significava até que, muitos anos depois, essa frase, sem mais porquês, me veio subitamente à cabeça e... e de repente, tive a minha infância toda de volta numa rua qualquer de Paris.
3) Gravatinha. Tive uma outra tia, Maria Cecília (Micici) – só usava camisa xadrês e só entrava na piscina com seus óculos de grau - que teve a gentileza de me ensinar a fazer aquele nó final da gravata em volta do pescoço para a minha primeira festa de formatura. Presumo que devia ter uns quinze anos, e ainda tenho a foto, junto com um amigo, celebrando esse importante evento. Bem, a partir daí, ela me brindou com esse apelido, exclusivo dela, que, por toda a nossa vida – ela já se foi há alguns anos – enriqueceu e alegrou os nossos encontros.
4) – Diletante – Quando fazia mestrado em filosofia na PUC, tive um professor que certa vez escreveu num trabalho que eu havia feito: “você não passa de um diletante!” Assustado e magoado com essa sentença - com direito até a ponto de exclamação - que desabou sobre minha cabeça, fiquei remoendo dias e dias até que resolvi –já que eu era um diletante, que tal saber com rigor o que isso significa? – consultar um dicionário. E aí veio o alívio e a surpresa redentora: “Diletante: aquele que faz as coisas por prazer e não por obrigação”. Bem, nunca pude agradecer àquele professor por ter me devolvido a mim mesmo.
5) Juca e Chico – Personagens de uma história infantil que povoou minha infância. Guardo com carinho dois exemplares: Juca e Chico e O Fantasma Lambão. (Naquela época, não havia, como hoje, todo um mercado voltado para o público infantil). Muitíssimos anos depois, estudando as caricaturas, as charges e as histórias quadrinhos na Fundação Casa de Rui Barbosa, descobri que o autor daquelas historinhas da minha infância chamava-se Wilhem Busch, e que ele é considerado um dos pioneiros das HQs. (Discordo!).Verifiquei também que elas tinham sido traduzidas por Olavo Bilac,sob o pseudônimo de Fantasio (observação: na capa do livrinho vem assim: “Tradução de Fantásio” e, logo em baixo, em parêntesis, Olavo Bilac. Ora, se ele bolou um pseudônimo, devia ser porque não queria ser reconhecido, certo? Depois, falam mal do português...). Bem, tenho pensado em propor um projeto de reedição com dois estudos: um sobre o autor, e outro sobre Olavo Bilac como tradutor. Tou pensando, tou pensando...
VERSOS, FRASES, PENSAMENTOS QUE GOSTARIA DE TER TIDO/DITO/ESCRITO
- Nossas idas se fazem por meio de outras vidas, e essas por meio das nossas. Roberto DaMatta.
- O pensamento nunca deve ser autorizado senão por si mesmo. Francisco Bosco.
- A moralidade não me ajuda; sou daqueles feitos para as exceções, não para as leis. Oscar Wilde.
- Talvez a experiência psicanalítica sirva não para trazer a felicidade aos seres humanos, o que me parece tarefa impossível, mas para ajudar um sujeito a ficar um pouco mais confortável com a tristeza que carrega. João Paulo Cuenca.
COISAS D'ANTANHO
RETIFICAÇÃO:
1) - Na última ou penúltima entrada do blog escrevi: “É o livro que te acha”. Bem, tenho tanta certeza disso que, quando a frase me veio à cabeça, achei que era minha. Mas não!, ela é do José Mindlin: “É o livro que te encontra”.
2) – Putz, errei de Santo! Na foto dos santos em Fortaleza, não se trata de são Damião - aliás, porque não de são Cosme? -, mas de santo Expedito. Bem, espero que os dois me perdoem...
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
MARAVILHAS DO DIA-A-DIA
OBELISCO DA FÉ
Desde sempre os homens celebraram com monumentos diversos a sua fé no transcendente.
Desde recentemente, os homens deram para emporcalhar seus monumentos diversos, sem se importar com fé alguma.
Esse, pichado até o topo na avenida de Fortaleza que leva ao Mercado Municipal, permanece - como outros - um mistério para mim: como é que eles conseguem?
terça-feira, 16 de novembro de 2010
VERSOS, FRASES, PENSAMENTOS QUE GOSTARIA DE TER TIDO/DITO/ESCRITO
- Em primeiro lugar, é preciso não fazer da realidade um constrangimento ao pensamento. Em seguida, é preciso fazer do pensamento um constrangimento para a realidade. Thamy Pogrebinschi.
- (...) Qualquer tentativa de se pensar com a própria cabeça é posta sob suspeita. Não por acaso, Vilém Flusser* teve que se exilar do Brasil, onde não era aceito justamente por conta de insistir em ter idéias. Márcio Seligmann-Silva.
* - Filósofo theco radicado
FORTALEZA SKYLINE
Quando tirei essa foto, da cobertura do meu hotel em Fortaleza, me lembrei da música do Bob Dylan “Nashville skyline”. Esse pôr do sol foi incrível; acho que experimentei esse pouco dessa iluminação cotidiana que cabe a cada um. (Desde que cada um tenha consciência disso – isto é, desde que saiba misturar o que vê com o que é).
A PAZ DAS PROFUNDEZAS
Quando estudava no São Bento, lá pelos idos dos ’60, havia um jornalzinho, se não me engano “O Avante”, que tinha como epígrafe: “As mais terríveis tempestades, são incapazes de perturbar a paz das grandes profundezas”. Ao ver essa jangada “singrando os mares” de um pacato beira-mar em Fortaleza, não sei porque, imediatamente me lembrei disso. Se, por acaso, alguém aí estudou no São Bento na década de ‘60, por favor me diga se o nome do jornal era mesmo esse, e se a epígrafe era mesmo assim.
sábado, 13 de novembro de 2010
EU E A ESFINGE
O barato de se perambular pelas ruas de uma cidade desconhecida é que você encontra as mais incríveis improbabilidades, como essa na Praça do Ferreira em Fortaleza. Mas, como tudo, tudo pode ter uma interpretação, dependendo de como se vê – e de como se fotografa. Repare: de um lado, a luz, quer dizer, a razão humana; de outro a esfinge, o lado escuro, símbolo do que, em nós, jamais será decifrado.
(E eu parado, - digamos, 20 segundos de minha existência no tempo - tirando essa foto. No fundo, o que é mais obscuro: a razão humana, a esfinge, ou isso que está em mim batendo essa foto e que eu chamo de eu, mas que não sei de onde veio, nem para onde vai?).
A MANDALA
Mandala disfarçada de vitral na Catedral de Fortaleza. Mandala em sânscrito significa “círculo”, a perfeita “representação geométrica da dinâmica relação entre o homem e o cosmos” (Wikipédia). Para Jung, ela é uma representação simbólica da psique, cuja função é consolidar o mundo interior do sujeito através da idéia de totalidade: uma representação simbólica da totalidade da psique humana. No Budismo, em suas várias escolas, ela é usada como forma de aprofundar a meditação. (Ver de C.G.Jung, Os arquétipos e o inconsciente coletivo”, Ed. Vozes, Petrópolis, 2002, e O homem e seus símbolos, Ed. Nova Fronteira, RJ, 2002. Ver também, de R. Moacanin, A psicologia de Jung e o Budismo tibetano. Ed. Cultrix, SP, 1999).
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
O BAOBÁ
Magnífico Baobá situado na Praça do Ferreira
domingo, 7 de novembro de 2010
A GOTA NO OCEANO
Bem, “ter” não é a palavra correta pois, na verdade, ela está em mim provisoriamente.
Não se trata de uma questão de fé, embora muitos crêem que a têm por pura fé.
Gosto de pensar que “algo” me emprestou essa alma, se bem que não consiga saber exatamente “quem” ou “porque”.
Ter uma alma envolve comportamentos diversos. Quanto aos meus, bem, espero que me justifiquem e estejam a altura do empréstimo.
Se é que a minha alma vai para algum lugar, depois de mim, não sei para onde vai.
(As ondas do mar, no seu incessante vai-e-vem – sempre se transformando e sempre sendo o que são – vão, afinal, para algum lugar?).
Sim, gosto de pensar que ela é assim como essa gota,
que salta no mar, ao mesmo tempo dentro e fora dele.
E gosto de pensar que quando eu não for mais eu – empréstimo resgatado, fatura liquidada – essa alma vai ser assim como essa gota, dentro e fora, da imensidão do mar.
VIDA
Tudo é busca, dúvida, solidão...
E certo gosto de abismo.
Lorca fuzilado,
Lennon abatido,
Artaud pirado,
Beethoven surdo,
Cobain dilacerado,
Borges cego,
Rimbaud amputado.
(E a melancolia de Wirgínia Wolf e Walter Benjamin).
Não, amigo,
A vida não vem com manual de uso,
Selo de garantia,
Nem certificado de qualidade.
ZEN
Sem intenção.
Só ser.
Sem onde/sem quando/sem porque.
2
Solidão voluntária.
Síntese:
só ser com ser só.
3
O silêncio do zen não é ausência,
mas condição e qualidade.
Não é renúncia:
quando cada coisa “fala por si”,
inútil “falar sobre”.
Calar é perceber o indizível que habita a linguagem.
O não dito do dito dito.
A RELIGIÃO FORMAL
Infantiliza, marca, mutila.
Seleciona, escolhe,
e discrimina.
Deforma, dilui, distorce.
Simplifica.
À ferro e fogo fere!
O EQUILIBRISTA E O SÁBIO.
Cair... afrouxar as rédeas da razão - o sábio perde as certezas do eu.
Cair...para um ou outro lado - indiferente - o sábio não teoriza.
Cair...para um ou outro lado - sereno - o sábio segue sua natureza.
Cair... para um ou outro lado - desapego - o sábio sabe de si, nada o constrange.
Cair... para um ou outro lado - seguro - o sábio não tem objetivo.
Cair... para um ou outro lado - disponível - para o sábio tudo é igual.
Sim,
Cair... romper conteúdos que mantém a mente nos limites da razão.
Cair... desaprender, livrar – se de manhas e tramas.
Cair... mergulhar plena-mente na não-mente.
Cair, portanto, no abismo de si mesmo.
Sim, todo sábio cai,
todo sábio é um equilibrista.
O MONJE BUDISTA E A DOUTRINA
mas não pode afirmar que ela seja mais verdadeira que qualquer outra.
Um monge budista sabe que escolher é excluir. Excluir é opor. Opor é privilegiar, permanecer na falsa - segundo a própria doutrina - abordagem dualista do real.
Um monge budista sabe que não há “essências” as quais se possam atribuir significados.
- Nada há de “essencial” nas afirmações do próprio Buda.
Um monge budista sabe que nada tem natureza própria, nem diferença substancial, a partir das quais um conceito seja mais verdadeiro que outro.
Um monge budista sabe que interpretações religiosas ou laicas são fugazes e ilusórias:
i-realidades, ilusões:
partes do mesmo vazio.
O VERDADEIRO MESTRE
Porque nada sabe, nada ensina.
Porque nada ensina... ensina!
O verdadeiro mestre sabe da precariedade operacional de seu ofício.
O verdadeiro mestre sabe que ensinar é levar o discípulo a desaprender,
desfazer-se das suas próprias certezas:
Das dele, discípulo.
Das dele, mestre.
A verdade é produto da experiência do pensamento sobre si mesmo.
(Quem não a experimenta em si, não sabe do que ela trata).
O MESTRE E O DISCÍPULO
Para o mestre, ensinar é duvidar de suas certezas.
Para o discípulo, aprender é duvidar das certezas do mestre.
II
O verdadeiro mestre sabe que não é um verdadeiro mestre.
Só assim, torna-se um verdadeiro mestre.
III
É melhor tornar-se logo um mestre
- nem que seja para si próprio -
do que permanecer preso a um.
IV
O que o mestre tem a dizer, pertence a ele como soma de suas circunstâncias.
Não “serve” para coisa alguma além dele.
Produto de experiências pessoais e intransferíveis,
o mestre não detém verdade alguma exterior a si próprio.
Não há critério algum de verdade a partir do qual o mestre possa verificar se o que diz é verdadeiro.
V
Ouvir um mestre só tem sentido se, ao ouvi-lo, o discípulo ouça-si.
O verdadeiro discípulo deve entender que o mestre é como o espelho:
Ao olhar para um,
Vê a si,
não o espelho.
HAI-KAIS
Rufar de asas.
É Chuang-Tzu
sonhando ser borboleta.
2
Passos na relva.
É a borboleta
sonhando ser Chuang-Tzu
3
Nem neve escorrendo dos cumes,
Nem cerejas em flor.
Suor, suor, suor.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
REFLEXÕES OCIOSAS
- É o livro que te acha.
- A felicidade é uma escolha.
- Não é a sabedoria que conta; é a busca.
PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR
“Tudo é divino, tudo é maravilhoso”, disse o poeta.
Porque os cristãos, com sua fé culpada, teimam em estragar a festa?
POBRE DE MIM...
Fortaleza 2010
I
Bundas e peitos assombram meu dia-a-dia.
O divino, o diverso, o plural feminino.
Delírio, transgressão, sanidade.
Ok, garotas jovens e saudáveis, mantenham-se seguras em seus distantes e inatingíveis atributos.
Calmo e no caminho, mantenho as rédeas de mim.
Sou cidadão correto e de respeito.
Pacato e inocente tarado visual.
II
Num lado de mim, uma “mente doentia”.
(Os peitos e as bundas)
Num outro, um garoto saudável.
(Os peitos e as bundas).
Me equilibro,
e faço um esforço danado para ser como sou.
III
Vitrines de lingeries que atrasam, que desviam, que seguram,
que atrapalham meus passos.
A destreza do olhar: de banda, de viés, rapidinho, como quem não quer, de lateral, fugidio, oblíquo.
Ah, como é palpitante e arriscada a vida de um voyer profissional.