segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ATENÇÃO:

Estou com um computador e programas novos, de modo que não conseguimos - eu e meu assitente/cúmplice/nerd Pedro Krause - entender muito bem como funciona o blog a partir de agora: não conseguimos, por exemplo, por os espaços entre as poesias, e tb. não conseguimos - a não ser de uma maneira pouco ortodoxa - botar a foto do "boteco" dentro dele. Da próxima vez, tenho certeza, o nerdismo do Pedro dará conta de tudo.

POESIAS DIVERSAS

A POESIA

Numa ponta, solidão

- Travessia -

Na outra, comunhão.

O BICO DO TUCANO

Sempre fui meio improvável,

como o bico do tucano.

Inadequado, nunca tive um lugar

que me coubesse com conforto.

(Um “gauche” na vida, como disse o poeta).

Nunca quis ser nada.

Sósoubeser.

(Nisso - modéstia à parte - sempre fui bom).

Quanto ao parafuso a menos,

bem,

“With a little help from my friends”,

Ele nunca me fez falta.

SEXUALIDADE E MORTE DE DEUS

O que o misticismo não imagina,

o erotismo sabe:

é preciso que Deus morra

para que a sexualidade humana

- apaziguada -

repouse entre os seres

que se tocam.

A SEXUALIDADE

O exercício da sexualidade é

o exercício do limite:

quem sou?

QUEM SOU?

O problema de Deus

Não diz respeito exclusivamente as religiões.

É preciso que Deus morra

para que, entre os demais,

saibamos quem somos.

A TRANSGRESSÃO I

É preciso retirar a transgressão da camisa-de-força da linguagem usual.

Ela não é o que o senso-comum designa como tal

(Não é delito).

A transgressão é da ordem da consciência.

Tem a ver com o sagrado e o profano:

uma prerrogativa da relação do ser com si mesmo,

... e suas circunstâncias.

A TRANSGRESSÃO II

A transgressão tem a ver com contornos e limites:

quem transgride pisa mais fundo,

vai mais longe, vê melhor.

Quem transgride sabe mais.

A TRANSGRESSÃO III

A transgressão é sempre uma pergunta.

A questão do limite é sempre a resposta.

(Cai-duros)

Fui assíduo frequentador de “Pés-sujos”, também conhecidos como “Cai-duros”.

Pão-durismo com pragmatismo; é que sempre fui um bibliófico meio “duro”, de modo que comprava livros em troca de “PFs”. Mas, também é verdade, foi neles que comi definitivas “Rabada com Agrião”, “Língua Ensopada com Pirê de Batatas”, ‘Lombinho à Mineira”, “Costeletas com Coradas”. Foi neles, sim, que tomei incontáveis cafezinhos em xicrinhas pescadas num caldo pseudamente fervente, e inúmeras cervejas, observando ônibus amassarem suas chapinhas, jogadas rente a calçada; sempre prestigiava os que exibiam calçadas mais “chapadas”, como prova insofismável da excelência de seus comes, e da rotatividade de seus bebes.

Hoje, “Pés-sujos” – esse patrimônio carioca – cedem lugar à “botecos” estereotipados, insípidos e ascépticos, como aqueles que os paulistas fazem, achando que recriam o “clima” do Rio de Janeiro.

Tudo bem! Há muito já não como “PFs”:

Adeus bactérias, fungos, parasitas e protozoários.

Adeus amebas e giárdias.

Adeus salmonelas, coliformes e stafilococos.

Adeus cervejas em copos de requeijão!

(E nunca mais um “Bife acebolado à cavalo”).

Ah, os costumes mudam, o tempo varre, mas as lembranças...

Ah! As lembranças são o ontem do tempo,

no seu hoje.



quarta-feira, 18 de agosto de 2010

EU, QUE NÃO EXISTO

EU – quando ainda não sabia o que isso significava – JOVEM.


EU – agora sei o que isso significa – VELHO.

Os budistas dizem que nada é permanente, nada tem substância.
Dizem, sobretudo, que o Eu não existe; trata-se, dizem eles, de uma ilusão.
Bem, quanto a mim, saber que eu não existo não deixa de me trazer um certo alivio.
E quanto a você... que também não existe?



sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Espiritualidade I

A espiritualidade é talvez o mais formidável obstáculo para os que - como eu - pretendem se apropriar da religião a partir de um ponto de vista laico. De certo modo, ela foi sequestrada, aprisionada, ela permanece refém de conteúdos religiosos: só se pode vivê-la dentro, mediada, através dela - religião- e deles - conteúdos. Bem, isso não é uma verdade necessária, nem uma necessidade universal. A espiritualidade, de fato, é da ordem do singular, do pessoal, do íntimo de cada um; ela é, portanto, da ordem do privado, e não deve ser vivida através de nada, nem de ninguém. A espiritualidade é uma sensação, uma emoção e, como tal, é intransferível!.
Mas então, como superar esse obstáculo? Simplesmente deslocando-a da esfera do sagrado para a do profano (onde primeiramente vi esse deslocamento foi num livro de Georges Bataille, não me lembro agora se no "Teoria da Religião" ou no "La Religión Surrealista", que comprei em Buenos Aires). De qualquer modo, trata-se de deslocá-la, reimplantá-la, realocá-la - reinventá-la - num novo espaço laico de significação e sentido.
Assim:
I
Michel Foucault: "Espíritualidade é: (...) o conjunto de buscas, práticas e experiências tais como as purificações, as renúncias, as conversões do olhar, as modificações da existência etc, que constituem, não para o conhecimento, mas para o sujeito, para o ser mesmo do sujeito, o preço a pagar para ter acesso à verdade. (...) [A espirituaslidade] postula a necessidade de que o sujeito se modifique, se transforme, se desloque, torne-se, em certa medida e até certo ponto, outro que não ele mesmo para ter acesso à verdade. A verdade só é dada ao sujeito a um preço que põe em jogo o ser mesmo do sujeito. Pois, tal como ele é, não é capaz de verdade".

II
Minha própria definição: A espiritualidade é:
-Sentimento: intuição, vocação, uma emoção e uma relação do sujeito com si mesmo, afirmando e atualizando sua singularidade enquanto sujeito.
- Desafio: Cada um tem que se por à prova, pois, diante dela, o sujeito se defronta com suas próprias verdades interiores.
-Busca: de uma verdade pessoal que faz parte do conjunto de verdades intransferíveis que cada um constrói para si ao longo da vida.
- Possibilidade: de um encontro, isto é, de cada um encontrar-se com suas próprias verdades.
A espiritualidade, portanto, é o modo - pessoal e intransferível - de como cada um se relaciona com si mesmo. É o modo como cada um cuida e sabe de si, além do mundano, do imediato.
(A espiritualidade envolve, se quizermos, uma Produção de Saber sobre si).

III
É mais ou menos isso; cabe agora a você escolher como quer vivê-la.









A espiritualidade II

I
Harmonia e equilíbrio:
E como se bebe o chá? Como se bebe o zen.
E como se bebe o zen? Como se bebe o chá.
E que gosto o chá tem?Gosto de zen.
E que gosto tem o zen? Gosto de chá.
II
Harmonia e equilíbrio:
condição de toda prática.
Toda prática como condição de toda espiritualidade.
Toda prática e toda espiritualidade como condição de
Harmonia e equilíbrio.
III
Harmonia e equilíbrio
Arte, impregnada de espiritualidade.
Espiritualidade, manifestada como arte.
Arte, confundido-se com realidade.
E realidade com espiritualidade.
Harmonia e equilíbrio

O Zen

Atalho para o abismo.
A vertiginosa via intuitiva cujo sentido
- o fundo do poço -
não se encontra em lugar algum.
O poço ... sem fundo.
E o fundo... sem poço.

O Budismo

I
O budismo considera a vida como ela é.
Nenhuma metafísica.
Nenhum juízo de valor transcendente.
II
Tudo em todos.
A única realidade é o vazio.
Afirmado ou negado,
tudo é irreal.

Versos, frases, pensamentos que gostaria de ter tido/dito/escrito

Charles Bukoswki:
Eu sou amargo às vezes
mas o gosto tem sido
doce. Eu só tenho medo de dizer isso. é como
quando sua mulher pede,
"diga que me ama", e
você não consegue.

Versos, frases, pensamentos que gostaria de ter tido/dito/escrito

Cecília Meireles:
Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem esses olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas,
eu não tinha esse coração que nem se mostra.
Eu não dei por essas mudanças,
tão simples, tão certa, tão fácil:
em que espelho ficou perdida a minha face?
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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Destino

Andei por aqui e por ali.
Fiz isso e fiz aquilo.
(Afinei e desafinei).
Mas envelhecer,
nunca passou por minha cabeça.

O zen

O silêncio que o zen tece
desvenda para o sujeito
que diante dele emudece,
quem, de fato, fala.

Questão

Inútil lutar contra o desejo,
porque o desejo não tem objeto.
Não se esgota.
O desejo deseja.

O desejo não sabe (o) que deseja.
É maior que o sujeito que deseja.

(O que é que se deseja,
sem que se saiba o que?)

O câncer e suas circunstâncias.

Cabeça no lugar.
Afetos por aí.
Competências diversas.

Versos, frases, pensamentos que gostaria de ter tido/dito/escrito

- Quem não se diverte, perde a viagem. Martha Medeiros.
- Existem problemas que só a poesia resolve. Paulo José.

Reflexões ociosas

- Eu - que só fumo cigarro heterodoxos - advirto: religiões formais viciam e fazem mal a saúde mental provocando danos psíquicos irreversíveis.
- A vocação religiosa é um mistério: o êxtase é uma vocação religiosa.
- O sagrado não é da ordem da transcendência, mas da imanência.
Potência de vida: physis, diziam os gregos, natura, diziam os latinos.
- Negatividade como positividade:
O ateísmo é um negativo positivo porque afirma o que nega:
Assim: Deus não existe!
- Liberdade é recusa.
- O zen mantém os pés no chão. Por isso, o mestre zen não vai a lugar nenhum (quem não está em lugar nenhum, está em todos).
-Minha biblioteca e eu: relação de identidade e prazer, unidade de sentido numa afetuosa semelhança cotidiana - extensão e prolongamento. Não se trata de relação cumulativa de ter, mas de delicada relação de ser.
Um lugar dentro.
De resto, Borges dizia que imaginava o paraíso como uma grande biblioteca; concordo, e digo que o inferno, bem, o inferno é aqui mesmo: impossiblidade de tudo ler.

A natureza

Tal como o tao,
a natureza não é.
A natureza somos.
Sendo, marcamos pontos na existência.
E passos na sabedoria.

O zen e a psicanálise

Objetivo comum:
salvar o sujeito do próprio sujeito.
No zen: ele desperta.
Na psicanálise: toma posse de si.

A Porta

Há uma porta aberta para os que duvidam,
um saber que se torna disponível.
Não vamos a lugar nenhum.
(E a porta abre sempre pra dentro).

A verdade

Tal como a sabedoria
a busca de uma verdade é uma experiência de transformação.
Trabalho do sujeito sobre si mesmo.
Não pode ser passada adiante.
Não se ensina,
ou não é uma verdade.
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