domingo, 13 de fevereiro de 2011




Segundo o confucionista Mencius, “o homem de bem estabelece distância entre o matadouro e a cozinha”. É bom concordar com o filósofo, mas não é sábio levá-lo ao pé da letra. Fiquemos, pois, com o “espírito da coisa”.
Bem, é pessoal e subjetivo o que dá prazer a cada um. Permitam-me, entretanto, uma pequena digressão gastronômico-filosófica sobre o vegetarianismo, essa renúncia gustativa carregada de boas intenções, compaixão, altruísmo... e muita ingenuidade.
Fiz, é claro, minha cota de sacrifício misturando bolinhos de tofu com algas marinhas; também fui vítima da dieta do arroz macrobiótico mastigado 60 vezes. Tudo bem, com 20 anos e mergulhado na contracultura, a gente faz qualquer bobagem, desde que tenha cheiro e gosto de “Oriente”.
Mas a maturidade é exigente, refina e apura o paladar intelectual.
Considere:
A violência embutida na morte do boi não é, em essência, diferente da violência embutida na do pé de alface (tudo ligado a tudo, um só um).
Em todos os sentidos, a vida se nutre da morte. Ela é o alimento da vida, e vice-versa. Todo ser vivo já nasce morto; é a morte propriamente dita que, essa, só vem depois.
Comer carne é produto de longo processo de evolução/adaptação. Não é, certamente, fruto do acaso ou capricho. Como resultado, nossa flora interior - nossa ecologia interna - depende dessa dieta altamente especializada. Abdicar de carne é promover o desequilíbrio interno, independente de opinião, gosto ou filosofia pessoal. O vegetarianismo, pois, subverte a ordem natural através da qual a natureza ordena as suas criaturas. Trata-se de uma distorção cultural que subverte uma disposição natural: desequilibra, desregula, desarmoniza.
De resto, compare uma camponesa alemã, cuja dieta é baseada em proteinas e laticínios, com uma vietnamita, com dieta de arroz e cereais. Verifique peso, altura, disposição física e mental, longevidade etc (O oriental, no entanto, teve a sabedoria de transformar suas carências em virtudes: hoje a culinária japonesa - pobre e limitada - é consumida como alta gastronomia).
A natureza - equilíbrio e harmonia - é pura carnificina: é assim que está programada para ser, e é assim que deve ser. Na natureza não há culpa, hierarquia, diferença ou subordinação.
Não há separação, mas diversidade, necessidade e precisão.
A natureza, dissse Rimbaud, “não é um espetáculo de bondade”.
Deixemos, pois, filosofias, boas intenções, ingenuidade, altruísmo e compaixão fora disso: a opção vegetariana só tem sentido como gosto pessoal!
Saiba:
A eventual extinção das espécies vegetais causará mais prejuizo, e provocará mais danos à humanidade, que a eventual extinção das espécies animais.
No mais, mantenha-se forte, saudável e carnívoro, mas, sobretudo,
Lembre-se:
O elo continua, o fio não se parte, pois a matriz é uma só.
Indiferente,
A vida segue seu curso:
E a fonte jorra.
Portanto, não negue, não negligencie e não subestime o animal que você é.
É assim que você se equilibra e se harmoniza com a (sua) natureza.
Viver é comer e ser comido.
E, nesse caso, prefira sempre a primeira alternativa, como inegável prova de sabedoria.

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