quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

OS PRÉ-SOCRÁTICOS E A FILOSOFIA ORIENTAL

Arrumando e revendo papéis antigos (é, antigamente fazíamos fichas dos livros que líamos...), encontrei essas anotações que havia feito logo que comecei a estudar a filosofia oriental. Minha idéia era fazer um estudo comparativo entre ela e a filosofia dos pré-socráicos, mostrando suas semelhanças. Transcrevo essas notas, sem maiores modificações:

- Concepções cosmológicas do zen e aquelas propostas pelos filósofos jônicos da escola pré-socrática: a concepção da divindade como “devir” foi formulada tanto no Ocidente, por filósofos como Tales, Anaximandro, Anaxagoras e Heráclito, quanto por filósofos taoístas da antiga China. (Desenvolver)

- No Ocidente, os pré-socráticos foram os primeiros a colocar o problema do conhecimento como tarefa exclusivamente humana. (Desenvolver).

- A idéia de que o uno gera o múltiplo e que este, por sua vez, deriva do uno é compartilhada tanto pelo taoísmo quanto pela filosofia pré-socrática, assim como um “devir” em constante processo de mutação: a eterna conflagração cósmica; a permanente destruição e nascimento do universo através de ciclos que se sucedem eternamente são alguns dos temas comuns abordados por taoístas e pré-socráticos. (Desenvolver).

- A filosofia pré-socrática é materialista e formula questões comuns e próprias ao taoísmo porque:
- Não é teísta.
- A concepção do homem, do cosmos e da divindade como constituídos pelos quatro elementos - fogo, terra, ar e água - ou por cada um deles (Tales, Anaximandro, Anaxágoras).
- A idéia da “divindade” como algo, indefinido, indiferenciado e indecifrável. (Anaximandro)
- A convicção ontológica de que tudo está ligado a tudo. (Anaxágoras)
- A idéia de um devir em constante processo de mudança. “Tudo flui”, um vir-a-ser eterno e cíclico, unificador de opostos, denominado Logos. (Heráclito)
- A idéia de ciclos cósmicos, de criação e destruição do universo (Anaximandro e Heráclito).
- A idéia de que o Uno gera o Múltiplo e de que este deriva, por sua vez, do Uno. (De modo geral, todos.) (Desenvolver).

- Parmênides, por sua vez, que forma com Heráclito, os dois maiores filósofos da antiga Jônia, introduz a idéia e o conceito de um ser imutável, único e pessoal, dando início, propriamente, ao que se convenciona chamar de “pensamento ocidental”, com o racionalismo e o dualismo que o caracteriza. Estabelecendo e definindo a ruptura ontológica definitiva entre o ser e o não-ser, Parmênides marca a cisão entre o pensamento clássico e o pensamento moderno, e a introdução da razão como fonte, como base da diferença conceitual entre um e outro. (Desenvolver).

- O Ocidente tem a pretensão de marcar o nascimento da filosofia a partir dos pré-socráticos. Ignoram que na Índia e na China, desde tempos imemoriais, seus filósofos já haviam especulado sobre as origens do ser, a constituição da natureza, bem como as relações possíveis entre ambos. (Desenvolver).

Bem, nunca desenvolvi nada. Mas acho que está de bom tamanho. É bom olhar para trás e encontrar esses projetos não desenvolvidos. São, um pouco, aquilo que fomos um dia, e, certamente embalaram nossos pensamentos e contribuíram para a auto-estima que – a cada etapa – é bom erguer em tono de si próprio. Acho que, ao longo da vida, cada um deveria ter e manter um ou dois projetos imaginários.
Finalidade: preencher de si, o si de cada um.
Eu, por exemplo, atualmente mantenho, cultivo e afago quatro projetos imaginários: 1) - “Wittgenstein e o zen”. (sei de um autor que já escreveu sobre isso: H. G. Hodgson, Wittgenstein y el Zen, Ed. Quadrata, B.A., livro que achei num sebo chechelento na Corrientes em B. A. 2) -“Nietzsche e o budismo”. Nietzsche escreveu episodicamente obre o budismo em sua obra. Minha imaginária idéia é tecer considerações a respeito. Por exemplo: o conceito nietzschiano do Eterno Retorno. Nunca consegui saber bem o que o filósofo quer dizer com isso, mas, acho que deve ser, mais ou menos, o seguinte: viva sua vida e seja o mais feliz possível nela, de modo a que em todas as suas vidas que se repetirão eternamente, você não tenha nada do que se arrepender. Talvez seja a idéia mais maluca do grande filósofo. Mas acho que, por isso mesmo, da pra fazer uma reflexão entre ele e as teorias budistas da reencarnação. O Eterno Retorno nietzschiano seria uma espécie de reencarnação budista... sem culpa. 3) – “As filosofias do eu em G. Bataille e Nietzcshe”. 4) – “A poesia de Alberto Caeiro e o taoísmo”. Essa talvez seja a única em que vislumbro uma leve possibilidade de ser posta em prática, isto é, se os deuses do tempo foram tolerantes e condescendentes comigo.

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