sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Espiritualidade I

A espiritualidade é talvez o mais formidável obstáculo para os que - como eu - pretendem se apropriar da religião a partir de um ponto de vista laico. De certo modo, ela foi sequestrada, aprisionada, ela permanece refém de conteúdos religiosos: só se pode vivê-la dentro, mediada, através dela - religião- e deles - conteúdos. Bem, isso não é uma verdade necessária, nem uma necessidade universal. A espiritualidade, de fato, é da ordem do singular, do pessoal, do íntimo de cada um; ela é, portanto, da ordem do privado, e não deve ser vivida através de nada, nem de ninguém. A espiritualidade é uma sensação, uma emoção e, como tal, é intransferível!.
Mas então, como superar esse obstáculo? Simplesmente deslocando-a da esfera do sagrado para a do profano (onde primeiramente vi esse deslocamento foi num livro de Georges Bataille, não me lembro agora se no "Teoria da Religião" ou no "La Religión Surrealista", que comprei em Buenos Aires). De qualquer modo, trata-se de deslocá-la, reimplantá-la, realocá-la - reinventá-la - num novo espaço laico de significação e sentido.
Assim:
I
Michel Foucault: "Espíritualidade é: (...) o conjunto de buscas, práticas e experiências tais como as purificações, as renúncias, as conversões do olhar, as modificações da existência etc, que constituem, não para o conhecimento, mas para o sujeito, para o ser mesmo do sujeito, o preço a pagar para ter acesso à verdade. (...) [A espirituaslidade] postula a necessidade de que o sujeito se modifique, se transforme, se desloque, torne-se, em certa medida e até certo ponto, outro que não ele mesmo para ter acesso à verdade. A verdade só é dada ao sujeito a um preço que põe em jogo o ser mesmo do sujeito. Pois, tal como ele é, não é capaz de verdade".

II
Minha própria definição: A espiritualidade é:
-Sentimento: intuição, vocação, uma emoção e uma relação do sujeito com si mesmo, afirmando e atualizando sua singularidade enquanto sujeito.
- Desafio: Cada um tem que se por à prova, pois, diante dela, o sujeito se defronta com suas próprias verdades interiores.
-Busca: de uma verdade pessoal que faz parte do conjunto de verdades intransferíveis que cada um constrói para si ao longo da vida.
- Possibilidade: de um encontro, isto é, de cada um encontrar-se com suas próprias verdades.
A espiritualidade, portanto, é o modo - pessoal e intransferível - de como cada um se relaciona com si mesmo. É o modo como cada um cuida e sabe de si, além do mundano, do imediato.
(A espiritualidade envolve, se quizermos, uma Produção de Saber sobre si).

III
É mais ou menos isso; cabe agora a você escolher como quer vivê-la.









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